Ensino a distância com a falta de acesso à internet: uma lacuna da educação na pandemia

Ensino a distância com a falta de acesso à internet: uma lacuna da educação na pandemia

Escrito Por: Bruna Voltolini

No final de 2019, as autoridades chinesas emitiram um alerta à OMS (Organização Mundial da Saúde) acerca de uma série de casos de pneumonia causada pelo novo coronavírus. Logo no início do primeiro trimestre de 2020, escolas e faculdades foram fechadas e, do ensino básico ao superior, a ampliação deste vírus traz consequências educacionais, entre elas a desigualdade.

Grande parte das escolas não contam com um suporte necessário para o oferecimento de ensino a distância e, já sendo mais presentes em instituições de ensino superior, as plataformas digitais eram utilizadas pela minoria dos estudantes de educação básica. De uma hora para outra, as escolas precisaram encontrar maneiras de se adaptar às novas tecnologias. “Os alunos com condições financeiras melhores estão sendo infinitamente menos prejudicados durante o distanciamento social do que aqueles que não possuem recursos para acesso às aulas online”, ressalta a professora Isabeli Mazzon Milani.

Dificuldades de acesso ao ensino a distância estão afastando jovens das escolas. Foto por: Bruna Voltolini

Além disso, poucos professores tiveram a formação adequada para lecionar a distância. A preparação de uma aula remota se difere e muito da prática presencial da sala de aula, e a dinâmica de interação com os alunos é outra. 

Segundo a professora Rafaela Bobek, os educadores de rede pública vem se reinventando a cada aula e exercendo funções que vão muito além de seus horários e capacidades, além da tentativa de atrair os estudantes para o ambiente EAD. “Não é uma tarefa fácil, mas está sendo realizada pela maioria dos professores que buscam uma educação de qualidade”, ela diz.

Crianças e jovens também não estavam acostumados a rotinas mais pesadas de estudos em casa, um ambiente que normalmente era associado a priorização de atividades de descanso e entretenimento. Longe da escola, os estudantes encaram mais um problema: para que o ensino a distância seja efetivo é preciso que todos tenham acesso à internet. 

Segundo o levantamento feito pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), no Brasil, 4,8 milhões de crianças e adolescentes, na faixa de 9 a 17 anos, não tem acesso à internet em casa. Eles correspondem a 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária.

O método adotado para o processo de ensino e aprendizagem durante a pandemia, vem expondo a desigualdade e as dificuldades enfrentadas por estudantes e professores de escolas públicas, como o acesso limitado à internet, falta de computadores e de espaço em casa, problemas sociais e a sobrecarga de trabalho docente.

Para a estudante de rede pública, Stefany Kotacho, 13, uma das maiores dificuldades do novo sistema tem sido a comunicação com os educadores. “Às vezes não consigo entender o que os professores dizem durante a aula e nem sempre posso perguntar na hora”, ela relata.

Com o repentino fechamento das escolas no início do ano letivo, o ajuste a essa nova realidade teve que ser rápido. Para a estudante Gabriela Machado Belusso, 17, a adaptação a essa situação é constante e tentar manter uma rotina diária é essencial. “Isso ajuda muito a não desistir tão fácil, eu continuo com meu hábito de estudar por vídeos, assistir aulas no YouTube sobre o conteúdo e expondo minhas dúvidas constantemente”, ela conclui.

Uma alternativa encontrada pelas escolas municipais e estaduais foi o envio de apostilas e atividades pelo correio e a transmissão de aulas pela televisão, com o objetivo de incluir alunos que não têm acesso à internet. Embora essas alternativas sejam temporárias, algumas transformações provocadas pelo distanciamento social tendem a permanecer, o que resultará em mudanças efetivas nas instituições de ensino.

Segundo a professora Josiane Pasino, apesar dos problemas na educação, que ficaram evidentes com a pandemia, essa nova realidade criou oportunidades de crescimento. “É só sabermos/aprendermos a trabalhar de forma coordenada e inovadora, colaborando uns com os outros, trocando experiências. Dessa forma, penso que a pandemia nos trouxe, em relação ao ensino a distância, uma imperdível oportunidade de evolução”, conclui a educadora.

Após esse período, é provável que até os mais tradicionais vejam as inovações tecnológicas como uma forma de melhorar o processo de aprendizagem. A expectativa é de que os alunos retornem às escolas com uma autonomia maior e valorizando as interações presenciais, e professores sigam possam seguir as atualizações constantes em nossa tecnologia.

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