Episódio 4: A cada dez suicídios, seis são de jovens negros

Mariana Valverde

ALERTA DE GATILHO: Esta série de reportagens apresentada pela ComTempo trata sobre o suicídio, depressão e outros temas relacionados à saúde mental. 

No episódio anterior, contamos como a depressão afeta a vida e rotina do ser humano, através de um relato pessoal sobre a doença. Agora, para dar continuidade a esse assunto tão sério, vamos tratar sobre o suicídio. O ato de tirar a própria vida ainda é visto com maus olhos pelo mundo, mas a questão é: por que as pessoas se suicidam?

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), no mundo ocorre um suicídio a cada 40 segundos. Trazendo esse assunto para o Brasil, os números continuam altos e assustadores. 32 brasileiros tiram a própria vida diariamente, gerando um número de 12 mil suicídios todo ano. No mundo, essa estatística atinge 1 milhão de pessoas.

Os dados ainda mostram um fato pouco conhecido: os negros se suicidam mais que os brancos. O Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa dizendo que crianças negras de 10 anos e jovens negros de 19 se suicidam 45% mais que os brancos. Para ter clareza, a cada dez suicídios, seis são de jovens negros.

Existe explicação para o fato?

Para falar desse tema tão importante, convidamos Jéssica Barbosa Vianna, de 26 anos, mestranda no Programa de Pós Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais, assistente social e feminista negra.

Segundo Vianna, historicamente, os negros se suicidavam para não se submeterem a situação de escravidão: “É bárbaro preferir morrer a viver sob algumas condições subumanas”, diz.

Para ela, a desigualdade social é um dos fatores que levam o negro a se sentir depressivo. “Toda essa pressão para garantir o mínimo para viver contribui para a experiência de morte que a juventude preta está fazendo e que é histórica”, explica.

A assistente social acrescenta ainda que o jovem está nessa condição atual, pois foi tirado dele o maior direito: o de ser criança, jovem ou adolescente, já que são obrigados a amadurecer precocemente. “Veja o quão violento é esse processo! Não há muito espaço para o afeto, o cuidado, as brincadeiras ou paqueras, porque a experiência do racismo, do machismo e de outras formas de opressões, já se coloca”.

Sobre essa brutalidade, ela diz que a “vida subjetiva é muito mais de luta pela existência do que sobre momentos felizes”, completa.

Mas será que existe uma forma de lutar contra todas essas estatísticas e toda essa tristeza e fazer a desigualdade diminuir cada vez mais?

O racismo estruturado na sociedade pede que a cultura e a história sejam cada vez mais expostas, para que, da maneira correta, todos entendam a dívida histórica que deve ser paga ao longo da vida.

Como lutar contra essas estatísticas?

“Não vejo, pelo menos no momento, uma alternativa mais viável do que aquela proposta por Bell Hooks: autoamor. Respeito por si mesma (o), a ponto de entender que a depressão não é um lugar para o silêncio, mas sim pedir ajuda. É gritar literalmente, ou não, sem deixar que às vozes e às narrativas cessem, se calem. E claro, se organizar coletivamente, porque como já dizia um provérbio africano: “um feixe de galhos é indestrutível”, finaliza Vianna.

No episódio de amanhã, o último desta série, uma especialista fala sobre o suicídio e a mídia e, até que ponto, a abordagem deste tema é um gatilho. Não perca.

Escrita por: Mariana Valverde
Edição de texto: Marcos Pitta

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