NATAL LEGAL: Ser solidário com quem vive à margem da sociedade

Kimberly Souza e Sérgio Júnior

Dedicar os sábados à missão de acordar cedo e preparar um grande café da manhã. Há 5 anos, este ato tornou-se parte do cotidiano de pessoas pertencentes à Comunidade Evangélica Igreja da Família que, através de grupo de evangelização, tentam alimentar o físico e a alma de seletos membros da sociedade, que viram suas vidas em marginalização.

O reforço alimentar e espiritual junto dos sábados em convívio, criaram estreiteza entre os dois grupos, o suficiente para cearem juntos no natal.

Como de praxe, ceias de natal exigem esmero, e neste caso não seria diferente. Antes mesmo da chegada do clima natalino, o grupo já visava o que seria realizado. Reuniões e mais reuniões aconteceram durante dois meses, às sextas-feiras, para concretizar o ato. Os encontros  consistiam em estratégias e muita oração para que tudo continuasse a ocorrer bem durante o processo.

“Aquele que diz amar a Deus e odeia seu irmão é mentiroso”. A frase dita pelo pastor Ricardo de Almeida, 32, enfatiza os anseios do grupo, e que refletem o pedido de sua divindade: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.

É sábado. A noite ainda não se despediu quando chegamos ao Centro de Missões, local pertencente à igreja responsável pelo evento.

No frio que acompanha a escuridão, um grupo fazia a ultima oração antes do evento, enquanto na cozinha, o café da manhã era preparado. Os pedidos de doações que foram atendidos para a realização do grande evento começaram a ser usados às 5h da manhã. Pão com presunto e queijo, café, bolo, suco, leite e bolacha compunham a mesa que esperava os visitantes.

Aos poucos, os demais colaboradores chegam e dão os toques finais: servem as mesas e organizam um salão de beleza. Os outros saíam para buscar os convidados.

Já era dia quando os primeiros começaram a chegar: os passageiros da perua que chegara lotada eram recebidos com muita festa pelos anfitriões munidos de confetes e bexigas.

Conforme iam chegando, desfaziam-se da bagagem e partiam para um merecido banho. O primeiro presente já os preparava para a ocasião: bermuda, camiseta e chinelo para eles; calça, blusa, chinelos e bijuterias para elas. Tudo no tamanho exato. A estreiteza assim permitia.

Após o banho quente, era hora do café da manhã. Já aconchegados, comiam e colocavam o papo em dia. O momento era carregado de sorrisos e de uma leveza que deixava claro que a ocasião não permitia lembrar-se dos problemas. Um verdadeiro comercial de margarina.

donos da lua tres

Depois de saciados, outro presente. Este, para a autoestima. Improvisado, o salão de beleza atendia além do óbvio. Tinha corte de cabelo e barba, escova modelada, manicure e pedicure. Tudo, segundo o estilo do convidado. Devido ao estilo de vida, os cuidados com a beleza não são tão presentes na vida dos convidados. Entretanto, com a oportunidade, deixavam visível que reconhecem o que realmente são e qual a versão de si mesmo que mais amam.

donos da lua dois

Proposital ou não, o próximo presente os aproximava ainda mais do seu próprio eu. Em uma das rodas de conversa, os convidados partilharam suas histórias de vida e o que pretendiam para o futuro. As realidades individuais que ali foram expostas deixavam clara a misoginia de ideais e formas de viver a vida. Entretanto, são histórias que se entrelaçam pela realidade atual e se assemelham por terem um mesmo objetivo.

O outro presente condiz com a realidade do grupo anfitrião: um culto. Os louvores foram cantados em alto e bom som, e em seguida, a palavra, que fora absorvida com muita atenção por cada um. O ato realizado serviu como um alerta de que há salvação para qualquer que seja o problema, na tentativa de reforçar esperanças abaladas e estender a mão.

Enquanto os convidados ouviam as falas do pastor, o ambiente do café da manhã deu lugar a uma grande sala de jantar, minuciosamente decorada com motivos natalinos. Enquanto saiam do culto, o almoço era disposto no Buffet. Macarrão, frango assado, maionese e salada: o típico almoço caprichado de domingo, acontecendo no sábado.

Servidos e sentados à mesa, comiam em clima de união e com olhares que agradeciam pela fartura, algo não muito presente em seus dia-a-dias, afinal, aprenderam de forma empírica que o pouco significa muito.

A manhã foi cheia e o almoço, farto. Um descanso no meio da tarde era imprescindível e assim o fizeram, afinal, ainda havia muito natal pela frente.

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A atitude vista como simples pelos anfitriões, reacende a esperança da possibilidade de ações aliadas ao sentimento mais nobre, porém esquecido, que há no ser humano: o amor ao próximo sem distinção. A fé na humanidade se reestabelece ao nos depararmos com atitudes heroicas como o ‘Natal Legal’, que receberam como convidados: Fernando, Flavio, Antonio Marcos, Marcos Antônio, Pedro, Fernando, os Carlos Albertos, Carlos, Deivid, Xavier, Laraci, Julio Pedro, Rian, Marcelo, Antônio, Amauri, Neto, Adilson, Tauane, Evandro, Patricia, Auro, Roseli, Onivaldo, Zinho, Mariano, Adilson, Rosana, Fernando, Anderson, Carlinhos, Carlos Silva, Edmilson, Luiz Henrique, Cassia, Rubens, José, Alessandro e Raul.

No Natal, esperam-se coisas positivas. Um momento de calmaria em meio a uma vida turbulenta. Ser um Dono da Lua não é tarefa fácil. É necessário ser corajoso, desprendido, aceitar os obstáculos que a vida lhes impõe e que, costumeiramente, são infinitamente maiores que os nossos problemas. Naquele sábado, eles deixaram seus lares por um dia e permitiram serem cuidados. Foram capazes de entregar seus corações, mesmo com as constantes rasteiras recebidas do mundo. Por esta razão, ainda são os heróis de mais este capítulo.

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