Céu e Inferno – Parte 2

Quando me referi às minhas “velharias” não foi com a finalidade de demonstrar um repertório vasto construído sem ajuda das Internet ou de coisas antiquadas e sem muito valor para a sociedade moderna, mas, sim, de considerar a diversidade dessas referências para a construção de uma crítica, um juízo de valores que se estabeleça na lucidez e na ética. Nenhum conhecimento é inútil. Depende de como fazemos uso construtivo dele. Algumas das minhas referências não fazem parte do meu convívio afetivo. São extremos. Discordo de muitas delas, mas as respeito por seu tempo e produção, além da oportunidade de ter me capacitado a ser quem sou.

Principalmente, discordo quando uma pessoa tem a consciência de estar distorcendo um conhecimento para prejudicar outros e, com isso, beneficiar-se! Conhecimento esse que não é limitado a poucos, restrito ou até mesmo inacessível. Duvidar da forma do nosso planeta e buscar sustentar essas posturas na ciência pode até ser engraçado, mas a graça também tem limites! Possivelmente o formato da Terra causará poucos prejuízos para a grande população mundial (certamente, pilotos de transportes aéreos não se deixam levar por essas piadas!) que continuará seu cotidiano dentro de uma normalidade, independentemente de uma prática infantil batizada com pompas de seriedade: negacionismo.

Mas…

Praticar a negação ao conhecimento e à ciência sobre fatores que influenciam diretamente a população, não só na sua qualidade de vida, mas na própria manutenção dessa vida, não é piada, é crime! Transformar uma opinião, muitas vezes construída de maneira caótica e retalhada em verdades absolutas é um desrespeito, uma forma de subestimar a inteligência de alguém, não importa quem seja.

Quando essa prática é exercida não pelo uso de conhecimentos distorcidos e parciais, mas, sim, pelo emprego da fé, do convencimento do outro por manipulação… sinto dizer, mas faltam-me as palavras para poder classificar tal ato e ainda manter o mínimo da educação que tanto prezo. Para não deixar o vácuo, penso em falta de ética, imoralidade, leviandade e muitos outros substantivos. Usar a fé, a religião, ou qualquer… qualquer, mesmo!… divindade (ou personalidade) para manipular uma pessoa em benefício de outros é paradoxal. Afinal, a pessoa que pratica tal ato deveria crer nos desígnios divinos que o levarão a uma eternidade de sofrimento em outro plano de existência ou na sua própria condição de “próximo na fila”.

Sua manobra é a de separar, em seus discursos medíocres, mas plenos de palco, a Ciência da Fé! Defendo, com todos meus princípios, que não há separação. A Ciência só é aprimorada por existir a crença em algo que está além daquele ponto na nossa História, muitas vezes inexplicável, e crer que aquele conhecimento adquirido até este momento sobre o Universo e o seu entorno não é o ponto final, que sempre descobriremos e aprenderemos mais à medida que perguntamos infinitos “por ques” e um bom número de “serás”. Isso não impede que a Ciência adote algumas posturas da Fé, e vice-versa. Do ponto de vista filosófico, considero as discussões sobre Evolucionismo e Criacionismo totalmente válidas, principalmente quando esses debates levam a um empate, o que apenas comprova a coexistência das duas ideias.

Certamente não é um procedimento fácil, considerando o desnivelamento – em diversos setores – que nossa população apresenta. Um desnivelamento que parece não ter solução objetiva, nem interesse para isso… há décadas! Os responsáveis por buscar essas soluções sempre tem assuntos mais sérios a tratar. E, assim, seguimos tendo opiniões transformadas em verdades, práticas de saúde sendo politizadas, discursos de ódio e intolerância transformando fatos reais, científicos, em “mentiras do demônio”.

Aquilo que sabemos e aprendemos nos acompanha por toda a vida. É um dos bens mais caros e individuais que temos. Um bem intangível, imponderável, sobre o qual, a partir do momento em que se instala no nosso cérebro e passa a fazer parte de quem somos, ninguém mais é capaz de controlar ou tarifar.

Espero que continue assim.

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