Por que nem todos admiram o arco-íris?

“Eu sou filho do arco-íris

Eu tenho outra íris

Eu tenho outro olhar

E se o céu azul

Nos trás o arco-íris

É para que a terra inteira possa admirar (…)”

A bela canção “Filhos do arco-íris” (2017) composta pelo publicitário Nizan Guanaes e interpretada por diversos artistas brasileiros me faz pensar na beleza da diversidade, das várias identidades e formas de amar, e na alegria e orgulho de quem é LGBTQIA+. Com a chegada do dia 17 de maio, Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e Transfobia, é de extrema importância reafirmar a defesa de uma sociedade inclusiva, que não aceita e não perpetua a homofobia e a transfobia, e que garante direitos, oportunidades e dignidade a todes. É preciso ecoar também as denúncias sobre a violência LGBTQIfóbica. O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTIs no mundo.

Segundo dados apresentados no “Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020”, organizado por Bruna G. Benevides e Sayonara Naider Bonfim Nogueira, e divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), no ano de 2020 foram contabilizados pelo menos 175 assassinatos de pessoas trans, sendo todas travestis e mulheres transexuais. Também no ano passado houve 77 tentativas de homicídio em relação à população trans. Segundo dados presentes no documento “Mortes violentas de LGBT+ no Brasil – 2019: Relatório do Grupo Gay da Bahia” (2020), organizado por José Marcelo Domingos de Oliveira e Luiz Mott, em 2019 houveram 329 casos de mortes violentas de LGBT+ no Brasil, destes sendo 297 homicídios e 32 suicídios. Tanto a ANTRA como o Grupo Gay da Bahia criticam nos documentos a subnotificação e a falta de dados.

Em 13 de junho de 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal, foi aprovada a criminalização da homofobia e da transfobia no Brasil, enquadrando-os no crime de racismo (G1, 2019). No entanto, como apontam diversas organizações, os casos não diminuíram e a falta de acolhimento e preparo no momento da denúncia, dificultam o ato da denúncia em si. 

Outra questão muito importante de se destacar, além da subnotificação dos casos de violência homofóbica e transfóbica, é a questão da falta de dados e informações sobre a população LGBTQIA+. Na plataforma do movimento global All Out, foi criada pelo ativista Dennis Pacheco uma petição para que sejam incluídas perguntas sobre a população LGBTQIA+ no Censo de 2021. Na descrição da petição, destaca-se que sem estes dados o Estado não consegue desenvolver políticas públicas eficazes. No momento da escrita deste texto, 43.556 pessoas já haviam assinado a petição.

Neste atual governo, e com um Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos com atitudes, falas e posturas abertamente homofóbicas e transfóbicas, é preciso intensificar as denúncias e continuar a resistência e a pressão para garantia e ampliação de direitos. É preciso lutar contra a hetero-cis-normatividade (heterosexualidade e cisgeneredade como normas), que nega existências, identidades e formas de amar. Não é preciso ser LGBTQIA+ para lutar por direitos LGBTQIA+. Precisamos todos nos unirmos contra qualquer tipo de violência, piadas e posturas que sejam e/ou promovam a homofobia e a transfobia. Todes precisam ser e se sentir incluídos em todos os espaços. Precisamos cultivar a empatia, a solidariedade e o amor. Vamos admirar e reconhecer as identidades e as formas de amar dos “filhos do arco-íris”!

Termino este texto com a continuação do trecho da canção “Filhos do arco-íris” (2017) de Nizan Guanaes:

“Por isso esse amor e esse orgulho

Que a vida colocou dentro de mim

E não importa a cor do meu amor

É o arco-íris que me faz brilhar assim (…)”

Sejamos anti-LGBTfóbicos! 

REFERÊNCIAS:

Filhos do arco-íris. Vários Artistas. Composição de Nizan Guanaes. Disponível em: https://open.spotify.com/album/0232VL1wkzBlLNsgCKiFrY Acesso em: 03 maio 2021.

BENEVIDES, Bruna G.; NOGUEIRA, Ayonara Naider Bonfim (org.). Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020. São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2021/01/dossie-trans-2021-29jan2021.pdf. Acesso em: 03 maio 2021.

OLIVEIRA, José Marcelo Domingos de; MOTT, Luiz. Mortes violentas de LGBT+ no Brasil – 2019: Relatório do Grupo Gay da Bahia. Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2020. Disponível em: https://grupogaydabahia.com.br/relatorios-anuais-de-morte-de-lgbti/. Acesso em: 03 maio 2021.

OLIVEIRA, Mariana; BÁRBIERI, Luiz Felipe. G1 – STF permite criminalização da homofobia e da transfobia. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/06/13/stf-permite-criminalizacao-da-homofobia-e-da-transfobia.ghtml. Acesso em: 03 maio 2021.

PACHECO, Dennis. IBGE: inclua pessoas LGBTI+ no Censo 2021. 2021. Plataforma All Out. Disponível em: https://action.allout.org/pt-br/m/8b6c7069/. Acesso em: 03 maio 2021.

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