Arieta Corrêa, a Leila de ‘Amor de Mãe’, comenta sobre a reta final da novela

Foto: (Divulgação) Pelo sucesso - Programada para ficar apenas três meses na novela, Arieta Corrêa surpreendeu-se com o sucesso de Leila que foi ficando na trama e chegará ao último capítulo.

Esse texto não contém spoilers.

MARCOS PITTA

A Crítica em Foco de hoje está mais do que especial. Depois de um ano fora do ar, paralisada por conta da pandemia, a novela ‘Amor de Mãe’ voltou à tela da TV Globo com mais 23 capítulos inéditos para encerrar todas as histórias. 

Completamente mais realista, o texto de Manuela Dias aborda a pandemia diretamente dentro da vida de todos os personagens. Para quem não acompanha, vale a pena correr para o Globoplay e conferir todos os capítulos para, finalmente, chegar nesse final e entender a obra de arte que a autora, juntamente com o diretor José Luiz Villamarim e toda a equipe estão desenhando juntos. 

Certamente, ‘Amor de Mãe’ entrará para a história da teledramaturgia brasileira, por tantos outros feitos e inovações que apresentou, além dessa retomada no meio de uma pandemia. Para falar sobre a carreira e o destino de sua personagem, Leila, a atriz Arieta Corrêa concedeu entrevista a esta coluna com muita seriedade, transparência, diversão e emoção. Confira!

Crítica em Foco – Quando soube que queria ser atriz? 

Arieta Corrêa – Eu descobri que eu era atriz, porque essas coisas, sem demagogia, a gente já nasce com esse dom que Deus nos dá e depois vamos descobrindo como aprimorar. Minha mãe tem veia artística, é poetisa, tem até um livro escrito, ela fazia roupa artesanal de couro e ela dirigia uma espécie de teatro religioso, no final do ano comigo e com meus primos. Era muito simples, usávamos lençóis da casa para criar os cenários e eu amava tudo isso. Daí, comecei a fazer teatro na escola e esse amor só foi crescendo e a certeza foi sendo reafirmada.

CF – Qual foi sua primeira experiência profissional como atriz?

Arieta – Foi uma peça do George Bernanos chamada “O Diálogo das Carmelitas”, com direção do Laerte Morrone, ainda no interior, foi patrocinado pela USC, a Universidade do Sagrado Coração. Fui escolhida para ser a protagonista da peça. Por conta disso, participamos do Festival de Teatro de Santos e com isso fui tendo cada vez mais certeza de que era isso, era algo muito forte dentro do meu coração.

CF – Você já fez trabalhos no teatro e na televisão. Qual a diferença entre esses dois mundos? E as semelhanças? 

Arieta – Sempre fiz muito mais teatro do que televisão, fiz cinema também, mas tudo pouco. O que eu mais fiz foi o teatro. A coisa mais significativa para mim foi que fiquei quase 7 anos com Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral, ele já faleceu faz mais de um ano, foi meu grande mestre e professor. As peças que eu fiz com ele foram as coisas mais importantes que eu já fiz ao longo da vida.

A diferença é total entre teatro e televisão e sinto muita vontade de fazer mais televisão. Tenho sede de me sentir mais à vontade, ainda não tenho muita experiência na TV. O teatro eu me sinto em casa, acho que é uma coisa intimista, realista da televisão ainda não me deixa à vontade. Não que o teatro seja fácil, nisso os dois têm similaridades, são difíceis. Ambos precisam que você seja muito verdadeiro, você precisa estar inteiro ali. Isso é um desafio eterno e constante, as pessoas precisam sentir o que a cena pede para elas sentirem. Isso vale para os dois mundos. Agora as diferenças, essa resposta é difícil, para mim ela não é racional, então vou pensar por alguns anos e depois eu te conto – risos -, mas é muito diferente, é um mistério. O teatro é outro departamento, outro lugar espiritual.

CF – Como você recebeu o convite para fazer Amor de Mãe? 

Arieta – Foi uma coisa muito boa que a Manuela e o José Luís Villamarim me convidaram para um jantar no Rio de Janeiro para conversar. Fui correndo, feliz da vida, imaginando que era coisa boa né – risos – E o tema do jantar era Amor de Mãe. Foi uma surpresa maravilhosa, uma bênção. 

CF – Como foi o processo de preparação para viver a Leila? 

Arieta – Foi bem intenso. Fiquei muito dedicada, afinal fazia bastante que eu não fazia televisão. De novela mesmo eu fiz apenas ‘O Rei do Gado’ (1996) e fazem mais de 20 anos e, desde então, eu nunca me dediquei mais em fazer novelas. A Leila é uma personagem muito complexa, imagina, ela já acordava de um coma de oito anos, com a filha já grande, muito dramático. Eu emagreci tudo que eu pude, porque na minha visão, uma pessoa residente de um hospital tem um aspecto de magreza, que falta tudo dentro e fora, não só da carne, mas de sentimento. É muito cruel hospital, coma. Fiz laboratório pessoal mesmo, com tudo que havia aprendido com Antunes, de tragédia grega e internamente trouxe tudo isso para compor a Leila. É um personagem muito difícil porque eu não podia me mexer, depois que ela acorda do coma não podia sair falando normal, tive que criar um jeito de voltar a falar, de voltar a me mexer, então foi um trabalho muito bonito e fiquei muito feliz de fazer.

CF – É este o seu personagem mais marcante ou tem outros? Tem como escolher o que mais te marcou na carreira?

Arieta – Eu sou muito abençoada, porque veja só, eu fiz duas novelas: ‘O Rei do Gado’, interpretando Chiquita, um personagem muito marcante e agora ‘Amor de Mãe’ que é a Leila. Para mim os dois foram marcantes, mas o que mais me marcou mesmo foi um personagem que fiz no teatro com Antunes Filho, onde eu fazia um menino, Gregório, a peça se chamava ‘O Canto de Gregório’. 

CF – Quando você recebeu a sinopse, já sabia dos desdobramentos da história da Leila ou você foi se surpreendendo ao longo dos capítulos?

Arieta – Eu sabia dos desdobramentos do início da Leila. Seria uma participação para durar três meses – risos – Então, o que eu sabia era isso. Sou muito grata ao público, porque mesmo ela deixando todo mundo louco, com raiva, o povo gostou porque ela cresceu e agora vou até o último capítulo. Era uma surpresa a cada capítulo que eu ia ficando e ia recebendo e sempre falava ‘Meu Deus, obrigada’. 

Leila é desmascarada por Magno e Lurdes e é expulsa de casa. A cena foi gravada em plano sequência. (Foto: Arquivo Pessoal)

CF – Teve uma cena muito importante que foi quando a Lurdes descobriu que foi a Leila quem denunciou o Magno para a polícia. Aquela cena me chamou a atenção pela emoção e o jeito que foi gravada, quase num plano sequência, era uma cena de discussão, um pouco difícil. Como foi gravá-la? Vocês ensaiaram? gravaram mais de uma vez?

Arieta – Quando a Lurdes descobre que a Leila é uma monstra, você tem razão, ela foi gravada sim em plano sequência. Ela foi bem complexa, foi o Zé Luiz Villamarim que dirigiu essa cena, ele veio com câmera na mão, a gente combinou e tentou ensaiar de uma maneira fria, para não fazer já com tanta emoção. A gente chegou a ensaiar um pouco e logo deu o ‘ação’ e valeu. Foi assim. Foi total plano sequência, foi muito bom fazer. Para mim na hora sempre é verdade, eu esqueço tudo e vou.

CF – Como você recebeu a notícia de que as gravações seriam paralisadas por conta da pandemia? 

Arieta – Lembro que foi meu aniversário em 18 de março e a gente parou uma semana antes. Estávamos gravando a mil, a novela estava prestes a acabar. Quando parou eu pensei que isso iria durar uns três meses, no máximo, imagina que a TV Globo vai parar uma novela, isso não existe, é mais fácil parar o mundo – risos -. Mas, estamos aqui né? Está sendo uma tragédia tudo isso que acontece com a pandemia.

CF – E como foi o retorno aos estudos? Qual foi a maior dificuldade nessa retomada das gravações? Como eram os protocolos? 

Arieta – O retorno aos estúdios, para mim, foi muito tranquilo. A grande dificuldade não foi profissional, nem foi em retomar uma personagem que estava adormecida, afinal, foram meses sem gravar. A dificuldade foi e é, para mim, social, humana. A tragédia que a gente vive, tantas pessoas morrendo e é uma coisa que eu nunca vivi e muitos também não. Na minha concepção de entendimento a gente tá vivendo uma guerra, eu já estava com essa sensação quando voltamos a gravar. Foi difícil ficar trancada no hotel onde ficavam todos os atores, inclusive os que moram no Rio, todos ficamos quarentenados, a gente não podia sair nem para tomar café da manhã, todas as refeições foram feitas no quarto e isso foi bem desagradável, a gente não foi feito para ficar preso. Você pode estar no melhor lugar do mundo, mas se você não pode ir e vir é muito desumano. E o que me deixava pior ainda é que eu estava num hotel cinco estrelas, a gente tem lugar para viver, mas e quem não tem? Isso para mim é muito grande, pior e maior. 

CF – Na primeira fase, acredito que você não tinha tanto tempo para acompanhar os capítulos na hora em que eles iam pro ar por conta da rotina de gravações de uma novela que é bem intensa. Agora, com a produção toda gravada, você tá conseguindo assistir diariamente? Como está sendo a sensação? 

Arieta – Na primeira fase não tinha tanto tempo mesmo. Afinal, moro em São Paulo, as gravações são no Rio, então eu ficava viajando. Mas agora existe esse prazer de ficar em casa com tudo que eu mais amo aqui presente e dá para acompanhar. Até tento fazer com que meu filho não assista, mas ele gosta, não tem jeito – risos – É uma sensação boa, poder assistir e ver que é uma coisa de vitória, entender que nós finalizamos a novela no meio dessa guerra. Uma sensação de alívio, de gratidão com tudo, com a responsabilidade da TV Globo que armou um esquema impressionante de segurança para que todos voltassem a trabalhar, não só elenco, mas equipe, produção e todos no geral.

CF – O final da Leila vai ser como você imaginava? Você chegou a trocar figurinhas com a Manuela Dias ou com o Zé Luiz Villamarim sobre a personagem e o desfecho dela?

Arieta – Não foi nada do que eu esperava. Me surpreendeu. Não troquei figurinha com ninguém, aliás eu não gosto de saber nada antes, gosto de ser surpreendida e a televisão proporciona isso. O teatro eu recebo o texto e já sei o que eu vou fazer, mas na TV não, tanto que a Leila só duraria três meses. Então, a cada hora eu levava um soco no estômago – risos -, mas no bom sentido. A Manuela é uma loucura, eu sempre ficava pensando: ‘olha só para onde ela foi’. E a autora tem esse dom de interligar todas as coisas, todos os personagens, fico pensando como que ela consegue.

CF – Você já trabalhou com a Manuela Dias antes da novela? Já conhecia o trabalho dela? Como foi essa parceria?

Arieta – Já trabalhei com a Manuela sim, a conheço tem muitos anos, de uma época que eu morava no Rio, ainda adolescente. Fiz algumas peças por lá e nesse tempo fiz boas amizades e eu fiz uma peça da Manuela que se chamava ‘Soul Quatro’ e ela fazia com a gente a peça como atriz e foi muito legal. Se Deus quiser vamos continuar fazendo coisas, gosto muito dela como pessoa e como profissional também.

CF – Você já tem outro trabalho em vista? É na TV, no teatro? 

Arieta – Tenho sim. Duas coisas, uma delas tem a ver com televisão, com novela, se Deus quiser vai dar certo, depois eu te conto – risos-. A outra coisa é que eu o meu namorado temos uma parceria de produção de um festival Yesu Luso, onde trazemos de dois em dois anos com apoio do SESC, países falantes da nossa língua mãe como países da África, Portugal e ano passado não deu para acontecer por conta da pandemia, mas temos a esperança de retomar esse projeto no segundo semestre. Meu sonho era ter uma vacinação em massa e que a gente possa voltar a ser livre até o final deste ano. Eu acredito muito em Deus e isso me ajuda a viver melhor, quando estou no auge da angústia eu olho para o alto do céu e peço uma renovação. 

CF – Você acredita que vai mudar o jeito de se fazer televisão no pós-pandemia? Exemplo claro está sendo a novela que está no ar já finalizada e isso provavelmente vai acontecer com as próximas, pelo menos agora, o que implica na novela deixar de ser uma obra aberta. Você acredita nessa mudança? E no teatro, como você acha que vai ser no futuro?

Arieta – Eu entendo pouco de televisão, mas torço para que não. No teatro eu fico com coração partido, eu entendo um pouco mais e entendo que para mim, aqui, agora, um teatro que não tem o espaço físico, cheio, de preferência, não é teatro. Eu tentei me aproximar do teatro virtual, mas para mim isso não é teatro, sendo bem franca. Isso é outra coisa. Então, sinto muito, fico muito triste com isso. O teatro vai voltar no futuro, não quero que ele vire uma tentativa de outra coisa. Para mim ele já é o que tem que ser. Vamos acreditar que o teatro foi viajar, para um planeta aqui perto e daqui a pouco ele volta. Essa é a esperança do meu coração. Que os teatros voltem lotados, que possamos voltar a emocionar as pessoas – diz com a voz embargada pelo choro -. Eu estou com os olhos cheios de lágrimas, porque eu sinto muito mesmo, por tudo. Mas, teatro para mim, é tudo que a gente sabe que ele é, e vai voltar assim como a liberdade e a nossa vida.

Faço um apelo aqui para que a gente se cuide, você que está lendo, façam o mínimo que é usar a máscara, de preferência já use duas para se proteger, afinal, o momento é o pior de todos. Festas então, nem pensar, eu não entendo isso. Vamos pedir a Deus sabedoria e respeitar a nossa vida e a do próximo, que isso é nosso maior presente.

Deixe uma resposta