A importância da família na nova rotina de estudos dos filhos

Estudar em casa é uma tarefa que exige muita disciplina.

Escrita por: Mariana Padilha

A pandemia do novo coronavírus chegou sem avisar a ninguém, causando inúmeras mudanças na vida de todos. As atividades cotidianas tiveram que se reinventar por conta do isolamento social, medida adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a propagação do vírus.

Foi o caso das escolas, que se reinventaram, trazendo as aulas para dentro da casa dos alunos, através de celulares, computadores e televisão. Porém, não é a mesma coisa… além de ser preciso mais disciplina e esforço, quem assumiu o papel dos professores foram os pais.

Trabalhar em home office, realizar os afazeres domésticos e ajudar os filhos com os estudos tem sido a rotina de muitas famílias nessa quarentena. Segundo Deborah Ribeiro, jornalista de Sorocaba-SP, mãe de João Pedro, 4, “Os maiores desafios são a disciplina e a concentração com mais pessoas em casa”.

O filho de Deborah está sendo investigado com comportamentos dentro do TEA (Transtorno do Espectro Autista), por conta disso, além da sala de aula, as sessões de terapia ocupacional e fonoaudiologia também foram trazidas para dentro de casa. Ela teve que criar uma nova rotina e fez um curso de treinamento de acompanhante terapêutico para conseguir acompanhar as necessidades de seu filho.

Para ela, o curso a fez se sentir mais segura em aplicar a metodologia na prática com o pequeno João Pedro: “ O curso de AT segue o treinamento padrão ouro com técnicas ABA (Análise do Comportamento Aplicada) que são cientificamente comprovadas”.

Ribeiro conta que foram 50 horas de conteúdo transformador com exemplos e sugestões práticas, direcionado para apoiar quem cuida: “Por exemplo, o curso explica como devemos nos comportar quando a criança tem algum comportamento de birra ou simplesmente como aumentar o repertório de palavras da criança. Sempre que João Pedro obedece os comandos, faço elogios e valorizo seu bom comportamento.  Mas, se faz alguma birra, não dou atenção e faço cara de paisagem. Percebi que com este procedimento o incentivo às boas práticas”, exemplifica.

A jornalista conta que durante o curso, “Mayra Gaiato (professora do curso, com mestrado em ABA e especialista em TEA) explica passo a passo como estimular a criança de uma forma simples e fácil. O ato de falar não é tão simples e quando passamos a estudar essas fases é um universo à parte.  A criança passa por 10 etapas até chegar à conversão funcional. Aprendi que contato visual, imitação e obedecer a comandos são três itens básicos para a criança desenvolver a fala. Então, todos os dias elaboro brincadeiras para cumprirmos esses três objetivos. Quando ele aprende algo novo é uma festa. Comemoramos cada palavra, cada mudança e cada gesto de amor. É incrível como passamos a valorizar atos tão simples”, comenta a jornalista.

A rotina de Deborah realmente mudou com a pandemia e a permanência do filho em casa, ela diz que com todo o aprendizado do curso que precisou fazer para continuar o processo educacional do filho, entendeu que “a ciência mostra que toda criança dentro do TEA (Transtorno Espectro Autista) precisa de tratamento comportamental estruturado por no mínimo 10 horas. Ou seja, estimular meu filho o tempo todo, na hora do banho, de comer, de brincar, de assistir. E tento correr contra o tempo, porque quanto mais cedo a criança aprender, melhor, em virtude da neuroplasticidade. Trata-se da capacidade que o cérebro possui de se reorganizar, modificar sua estrutura em resposta aos estímulos que recebe. Esse ‘treinamento’ possibilita a evolução dos neurônios responsáveis por atuar em atividades como linguagem, motoras e sociais”.

A jornalista explica ainda que “quem está no TEA, a neuroplasticidade significa a possibilidade desenvolver e aperfeiçoar as habilidades por meio das experiências em amplos sentidos, sobretudo sensoriais: audição, paladar, tato, olfato e visão. Estudando neurociência entendi a maneira de pensar do meu filho e, com isso, consigo ajudá-lo em suas dificuldades e valorizo suas habilidades. E um vai aprendendo com o outro”, finaliza.

Além de lidar com as mudanças causadas nas rotinas, é preciso conciliar tudo o que está acontecendo com a ansiedade por conta da pandemia e os problemas ocasionados por ela. De acordo com Ivonete Padilha, de Curitiba-PR, mãe de Lucas, 12, o começo foi mais fácil, “mas o tempo foi passando e a ansiedade, por tudo que está acontecendo, foi aumentando. O desafio atual não é mais só a concentração nos estudos, mas também manter a motivação”, desabafa a mãe.

Como não existe previsão exata para a volta às aulas, o jeito é aprender a lidar com o ensino a distância. Segundo especialistas, a demonstração de interesse dos pais é fundamental para o engajamento dos filhos nos estudos. Além disso, é preciso criar uma rotina, organizando os horários para estudo, mas não deixando de fora os momentos de lazer. 

Os exemplos de Deborah e Ivonete podem representar muitas mães não só do Brasil, mas no mundo inteiro que teve a rotina escolar afetada por conta da pandemia. 

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