(AD) Mirável Jornalismo Novo

Angelo Sastre

O jornalismo ou a prática do jornalismo é um tema tão recorrente como futebol, política ou religião, principalmente, em tempos onde termos como “fake news”, “pós-verdade”, “influencers” e outros estão na moda e no vocabulário popular.

O interessante é que o jornalismo (ou a prática dele) assim como o futebol, política ou religião, alimenta o imaginário de que qualquer pessoa é “especialista” no assunto, com direito a fazer análise, definir estratégias, avaliar os envolvidos e criticar.

Como observa o sociólogo francês Michel Maffesoli, a comunicação é uma ferramenta de “religação” entre os indivíduos e o elemento que funciona como um “cimento social” ao unir pessoas, interesses e crenças.

Nesse contexto, observamos que o sentido ganha ainda mais força por meio das novas tecnologias, que permitem um acesso mais rápido e fácil. A atual geração talvez não tenha ideia, além da visão romântica para alguns, do que era levar uma manhã de domingo para ler uma edição de jornal impresso que, incluindo os classificados, chegava a ter mais de 200 páginas.

Na atual “modernidade líquida” observada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ou a “sociedade em rede” definida pelo sociólogo espanhol Manuel Castells, a informação trafega em um fluxo contínuo e veloz, onde temos uma sensação de superficialidade e instantaneidade que não permite a análise, somente o registro pontual do fato.

Isso não é uma crítica aos novos meios de comunicação, nem uma defesa saudosista dos veículos tradicionais como o jornal impresso, mas uma reflexão sobre nossa relação com as notícias, que é diferente de “informação”.

O filósofo prussiano Friedrich Nietzsche, em seu livro “Assim Falou Zaratustra”, permite uma reflexão na qual observamos que o processo cultural e, consequentemente, o comportamento humano são limitações pessoais e transitórias, ou seja, o homem pode ser considerado um elemento variável no processo. No entanto, é preciso desenvolver um processo de superação de seu estado de imobilidade, fragilidade e dependência social e cultural em relação ao conteúdo e ideais compartilhados.

“O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem – uma corda sobre um abismo. Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso olhar-para-atrás, perigoso arrepiar-se e parar. O que é grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir.” (NIETZSCHE, F., Assim Falou Zaratustra, 2005, p. 211)

 

No que podemos chamar de “jornalismo digital” existe uma série de conflitos de estilo, linguagem, conceitos e meios de produção, que acabam se confundindo (e confundindo o usuário) e colocam qualquer “informação” como notícia, como se tudo fosse possível sem qualquer tipo de responsabilidade ou preocupação. Isso sem entrar no mérito da cultura do “na internet tudo é gratuito”.

Existem vários episódios onde pessoas criam canais em mídias sociais como o Facebook e YouTube ou criam sites informativos sem tomar o mínimo cuidado com a apuração, com a responsabilidade do impacto da suposta “notícia” ou mesmo com a forma de acesso às informações, imagens e vídeos.

 

Entretenimento, divulgação de opiniões e de informações são sempre válidas e livres, mas isso não é jornalismo. Em um mundo conectado é necessário que o público tenha a percepção do papel do jornalismo para depois ter condições de entender termos da moda como “fake news”. Sejam bem vindos ao “(AD) Mirável Jornalismo Novo” onde a tecnologia avança, mas a compreensão dos fatos está cada vez mais superficial.

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