Uneafro: por uma educação libertadora

Gabriela Brack

Talvez você já tenha tido contato, ou ouvido falar, sobre organizações ou grupos que ofereçam cursos pré-vestibulares, ou preparatórios para concursos públicos, por exemplo.

Mas imagine um lugar onde, além deste suporte que você busca, ele ofereça “um pouco além”. Uma nova forma de enxergar o mundo, te preparando não apenas para os conteúdos pré-estabelecidos já de praxe entre os vestibulares, mas também como ser pensante e crítico sobre o lugar que ocupa num contexto social. Uma formação também política e cultural.

Esta é a tradução do que representa a Uneafro Brasil (União de Núcleos de Educação Popular para Negr@s e Classe Trabalhadora), que completou exatamente uma década em 5 de março deste ano.

Um artigo contendo estatísticas, histórico e tudo que a Uneafro construiu ao longo de 10 anos ganhou espaço no blog Negro Belchior, do coordenador da Uneafro Brasil, Douglas Belchior, no site da revista Carta Capital.

“A principal missão da Uneafro é tirar o corpo negro e pobre da linha do tiro, do contingente encarcerado pelo estado, da fila do hospital e dos números das estatísticas da violência. Para isso, desenvolve ações que buscam oferecer oportunidades de estudo e trabalho, sempre acompanhada por uma permanente formação cidadã, justamente para que esses jovens alcancem a compreensão dos motivos que geram tanta violência, desigualdade e injustiça”, detalha Belchior no artigo.

Falamos mais especificamente do núcleo inaugurado em 2018 em Bebedouro, interior de São Paulo, onde a história das raízes da Uneafro certamente está só começando. Pela intervenção de Douglas Belchior e também do educador Cleyton Borges, o núcleo ‘Conceição Evaristo’ está em Bebedouro desde fevereiro do ano passado, sendo o primeiro núcleo da região norte do Estado de São Paulo.

A coordenadora do núcleo em Bebedouro, a assistente social e professora Jéssica Vianna, conta que além das importantes pontes entre a Uneafro e Bebedouro, a implantação do núcleo na cidade contou com a diretora do Depto. Municipal de Promoção e Assistência Social e também coordenadora de Direitos Humanos, Elaine Lucas; e ainda dos professores Thiago da Hora e Micael Renan, também coordenadores e professores voluntários do núcleo.

“A Uneafro é voltada principalmente a preparar negros e negras das periferias a entrar nos espaços de poder, através da universidade”, afirma Vianna, destacando o papel da Uneafro enquanto movimento social, que se organiza coletivamente em torno das questões étnico-raciais.

Para a coordenadora, o núcleo de Bebedouro alcançou um crescimento rápido, quanto à necessidade do cursinho na preparação para os vestibulares, e ainda por demandas relacionadas ao racismo e machismo. “Foi a primeira vez que nos engajamos num projeto como este, mas foi um ano muito positivo”, analisa.

A primeira turma do núcleo ‘Conceição Evaristo’ foi iniciada com 80 alunos, chegando ao fim de 2018 com 25 (proporção considerada alta num âmbito nacional da Uneafro). “E quase 70% deste total já ingressou nas universidades”, diz Vianna. “Foi muito bem avaliada essa persistência, e não só pela formação, pois fizemos encontros também após os vestibulares. Quem entendeu a proposta do cursinho, se apropriou do espaço e isso foi muito bom”, destaca.

As motivações das desistências passaram pela dificuldade em conciliar o cursinho com o trabalho; ou após outros momentos decisivos, perante posicionamentos políticos, como foi o caso da aula inaugural, sobre os 130 anos de Abolição da Escravidão no Brasil, e uma aula sobre o assassinato da socióloga e política Marielle Franco, executada em 14 de março de 2018. “Foram dois momentos que nos posicionamos enquanto Uneafro, e alguns identificaram que aquele espaço não pertencia a eles”, diz a coordenadora.

Leia a reportagem na íntegra baixando gratuitamente a quinta edição da ComTempo, clicando aqui.

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