Vida curta aos pseudos que não fazem nada além do desserviço

Marcos Pitta

A quarta edição da Comtempo chega mais forte do que nunca. Forte em todos os sentidos. Em apresentar aos leitores ainda mais informação, em trazer temáticas pouco exploradas pela mídia, como estamos fazendo desde a primeira, lançada em setembro passado. Mais forte ainda em mostrar como o jornalismo é fundamental na vida das pessoas, mesmo com o crescimento abundante da internet de uns tempos para cá onde todo mundo sente-se no direito de digitar meias palavras e soltar uma “informação” na rede.

A tragédia em Brumadinho é o destaque desta edição, mesmo o assunto estando em evidência em todo e qualquer noticiário, seja ele de televisão, impresso ou online. O fato de trazermos este crime como reportagem principal, não quer dizer que ainda falte algo a ser explorado, afinal, vimos desde que a barragem se rompeu, todos os veículos indo a fundo e se desdobrando para informar as pessoas do crime que ali aconteceu.

A Comtempo traz Brumadinho através de olhares, o de um especialista, o de um líder que formou grupo para ajudar às vítimas e seus familiares. O olhar de cidadãos que nunca mais vão acordar e olhar para a cidade da mesma maneira, e mais, o olhar de uma jornalista que esteve no local fazendo cobertura sobre a tragédia, que ressaltou, mais uma vez, assim como muitos nessa cobertura, o papel do jornalismo em situações como esta.

A Comtempo traz ainda, em todas as suas outras reportagens, temas que foram desenvolvidos com máxima apuração e cuidado de seus profissionais. Afinal, profissão esta que corre risco, grandes riscos. Em abril do ano passado, a ONU Internacional Repórteres Sem Fronteiras, divulgou que o Brasil é o segundo país que mais mata jornalistas por exercício da profissão no mundo, perdendo apenas para o México.

O estudo apontou que entre 2010 e 2017, 26 repórteres foram assassinados por estarem realizando seu trabalho. No México foram 52. Os números são alarmantes, mas isso não pode parar quem tem fome pela informação bem apurada e pela verdade, sempre. No entanto, é preciso deixar claro a função do jornalismo, que é, ao contrário do que pensam, uma prestação de serviço à comunidade.

O jornalista tem por obrigação denunciar o que está errado, o que está prejudicando a população. No entanto, apenas colocar o dedo na ferida não mudará nada, aliás, vai mudar a dor que passará a ser maior. O jornalismo bom e ético é aquele que vai além da ferida, é aquele que chega até o machucado com o remédio para curá-lo.

Não é preciso ir longe para ver perfis de pseudos-jornalistas na internet com milhares de seguidores. Navegando por essas páginas lamentáveis, você encontra apenas notícias ruins e desabafos de seus gerenciadores de que jornalismo de verdade se encontra ali. Quando referem-se a “jornalismo de verdade”, estão querendo dizer que fazer jornalismo é fotografar os buracos da rua, gravar ou compartilhar o vídeo da vítima sendo levada para o hospital sem ambulâncias, ou em estado precário, ou que fazer jornalismo seja, simplesmente, criticar o executivo e o legislativo quando a chuva cai e a cidade alaga.

O jornalismo vai além disso. O jornalismo de verdade expõe todos esses fatos citados acima, como fazem os fake jornalistas, mas apesar de fazer igual, existe uma diferença gritante entre ambos. O conhecimento. Para ser jornalista pode não precisar de um diploma (o que é lamentável), mas precisa de estudo, de sabedoria, de ética, de respeito e claro, de dominação quase que perfeita da língua portuguesa. Os tantos “jornalistas de plantão”, “heróis das cidades” não tem o principal que o jornalista por formação possui, o depois.

O depois que não importa. Afinal, para os pseudos, o depois pouco vale. Vale mesmo é o agora, é o buraco ali no meio da rua, é o alagamento naquela via, é o hospital sem médico. Onde ficam os questionamentos? Onde está a solução? O jornalismo que ajuda a sociedade é aquele que entrega o problema ao lado da solução. Apresentar apenas o problema não é jornalismo. Mesmo quando é furo, o jornalismo apresenta a problemática, mas em seguida dá foco aos desdobramentos. Aliás, os pseudos não sabem nem como deixar um gancho para uma suíte, na verdade, para eles, suíte é apenas mais um cômodo da casa.

Assim como a tragédia em Brumadinho, que fez centenas de vítimas, onde o papel do jornalismo vai além de informar, temos por obrigação cobrar respostas, exigir a verdade. E é isso que vem sendo feito. Quem lê (em um país que cada vez se tem menos leitura), sabe que isso vem sendo feito com maestria.

Mas, não basta ler. Tem que ler de tudo. Tem que ler todos os veículos de comunicação. Para quem é jornalista, não basta ler só os bons, tem que ler o ruim, talvez para não fazer igual. É preciso ler de tudo e de todos, é necessário se informar de todos os lados, por todos os meios, por todas as mídias, afinal, pode ser que mude as ferramentas com as quais estamos nos informando, mas jamais irá mudar, e nem pode, a maneira como se faz jornalismo sério e ético.

Aos pseudos, vida curta. Não curta como as dos 26 repórteres assassinados por exercerem com amor sua profissão, mas no sentido de senso. Vida curta a vocês que prestam um verdadeiro desserviço à população e acabam fazendo com que a marca de um jornalista seja regida por escândalos e sangue.

Aos profissionais de verdade, vida longa. A Brumadinho, a solidariedade da equipe da Comtempo. Aos nossos colaboradores, muito obrigado. A quem está entrando nessa profissão, seriedade, foco e coragem. Para quem já está, parabéns. Para quem chegou até aqui, continue, as páginas seguintes estão repletas de informação, feita não pelos melhores e únicos, mas por profissionais competentes e comprometidos com você, leitor. Boa quarta edição.

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