Marcos Pitta
Após a posse do novo presidente do Brasil, muitos inteligentes começaram a ter a sensação de dejavú. Alguns, com mais bagagem de vida e experiência, já assistiram este filme mais de uma vez.
Muitos se sentiram entrando em 1964 e não em 2019. Para outros, em sua grande maioria os profissionais da comunicação, tiveram a sensação de estar nos Estados Unidos da América.
O governo Bolsonaro para com a imprensa começa da mesma forma que o governo Trump na maior potência mundial, com descaso. Como pode, em pleno século 21, um presidente eleito democraticamente desmoralizar e ferir uma das profissões mais antigas do mundo, que está ali para fazer, nada mais que seu trabalho de informar.
O relato da jornalista Monica Bergamo na Folha de São Paulo foi suficiente para ver que mais dias de cão, virão. Centenas de profissionais viram seus quatro anos de estudo árduos jogados no chão, assim como eles. Afinal, foi no chão que eles aguardaram o momento da posse, pois não havia cadeiras no salão. Aliás, até tinha, mas foram retiradas.
Primeiro de janeiro de 2019 certamente foi um dia histórico, um novo presidente assume a nação após 12 anos de mandato de um único partido. Eleito democraticamente, prometendo mudanças, salvação e, em seu primeiro dia, fere aquela que seria sua principal aliada, a comunicação.
Nos dias seguintes, mais tristezas, só para citar dois exemplos, a comunidade LGBTQ+ foi retirada das diretrizes dos direitos humanos e a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, disse após assumir a pasta, que menino veste azul e menina veste rosa, talvez a frase mais infeliz já dita por ela em toda sua trajetória.
Após a repercussão de sua fala, a ministra Damares Alves disse, em entrevista ao Jornal das Dez, da Globo News, não estar arrependida do que disse: “Foi uma metáfora. Nós temos no Brasil o ‘Outubro Rosa’, que diz respeito ao câncer de mama com mulheres, temos o ‘Novembro Azul’ com relação ao câncer de próstata com o homem. Então, quando eu disse que menina veste cor de rosa e menino veste azul, é que nós vamos estar respeitando a identidade biológica das crianças”, disse.
Dito isso, é melhor prepararmos olhos e ouvidos, para enxergarmos e ouvirmos comentários preconceituosos, racistas, machistas e homofóbicos disfarçados como figuras de linguagens. O editorial desta edição não vem disfarçado de receita de bolo de cenoura, mas se algum dia for preciso usar deste artifício, será fácil encontrar a solução. Afinal, bastará dizer que se trata de uma metáfora.
Aliás, se tudo continuar com o andar da carruagem de quase um mês de governo, os brasileiros já pode começar a inserir esta palavra em seu dicionário do dia a dia. Qualquer atitude que possa ser usada contra você pode ser facilmente substituída por uma metáfora. O melhor de tudo, é que serão quatro anos de muitas gargalhadas. Pessoas que até ontem não sabiam o significado de uma figura de linguagem, hoje defendem a fala da ministra com imensos textos nas redes sociais. Por falar em redes sociais, elas serão as mais beneficiadas com tudo isso. As notícias irão dobrar; as fake news triplicar e quanto aos memes, nem é bom tentar calcular. O espetáculo já começou, só que de forma invertida. São mais de 209 milhões de palhaços sentados nas arquibancadas deste grande circo, e no picadeiro o presidente e seus partiners ministros que dominam este grande circo. Calma, essa comparação foi só uma metáfora muito bem utilizada.
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