No que pensamos, de fato, ao sentirmos o desprezo dirigido a uma posição pessoal que não gira ao redor do próprio umbigo? Uma posição sustentada por argumentos científicos, reais e constatados? Uma posição que não tem por objetivo o benefício próprio e, sim, o coletivo? Talvez busquemos, de uma maneira torta, fazer prevalecer a justiça, não como um super-herói cheio de escrúpulos, mas como um indivíduo que, verbalmente, sodomiza um estuprador, elimina um ditador ou rechaça um supremacista.
Em tempo, estou me referindo aos filmes de Quentin Tarantino! “Pulp Fiction”. “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”!
De volta… nos filmes, essas posturas de justiça e vingança podem até parecer corretas em algum momento, quando o imaginário toma o lugar da realidade e deixamos fluir o “E se?”. Podemos defender que faríamos o mesmo, envoltos em um rodopio de emoções com diálogos e músicas que não estão presentes deste lado das telas. Podemos assumir o papel de herói – jamais de vilão! – pois estamos prontos para “fazer justiça”.
Apesar da vontade de praticar, fazemos prevalecer a civilidade e nos atemos ao embate verbal de ideias, quando parece oportuno, promissor e recíproco. Caso contrário, ignoramos. É mais saudável, em diversos sentidos, e nos distancia das telas justiceiras de tantos personagens que fazem com que o sentido da condição humana se perca irremediavelmente.
Algumas vezes, Tarantino diz que seus filmes são referências a outras obras e à cultura pop estadunidense. Em alguns momentos, parece haver uma dose de referência autobiográfica, também. Imagino sua reação ao acordar na manhã de um feriado com o barulho ensurdecedor dos filhos do vizinho tentando compensar a frustração por não terem viajado. Agiria como Jules Winnfield, Shosanna Dreyfus ou Jimmie Dimmick?
Depois do livro, descobri que há, sim, uma dose autobiográfica nas suas histórias, mas não como protagonista em seus atos justiceiros de vingança gráfica. Ele é um observador, como muitos de nós, um “Quint” que conviveu com alguns daqueles “personagens da vida real” nos mesmos momentos históricos, os observou da mesma maneira que o fazemos nas telas, admirados e, se surgir a oportunidade de encontrar pessoalmente, “vou pedir um autógrafo”!
Sim, eu sei, autógrafo é coisa antiga… selfie, tiozão, selfie.
Enfim, foi isso o que mais me cativou e fez rever seus filmes sob um novo olhar, o de não viver como um tresloucado em uma aventura surreal de realidades alternativas, em algum episódio de violência e fúria gratuitas e, sim, pensar em nossa própria biografia e o que nela nos faria agir daquela maneira.
A condição humana faz de nós heróis ou vilões, pessoas do bem ou do mal? O que nos move, na nossa essência?
Um exercício que deveríamos fazer com mais frequência no mundo real, com os fatos reais.
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