Vocês Venceram, Gauleses – Parte 1

Por César Belardi

Em 4 de Setembro de 2018 comecei, na prática, um novo projeto sobre HQs. Nada muito trabalhoso… ledo engano… porque seria, basicamente, reler toda uma coleção de histórias para elaborar uma resenha sobre o conjunto da obra e cada um de seus capítulos. Absolutamente prazeroso, sem qualquer cobrança de ninguém.

E lá fui eu, reler todas as histórias de Asterix!

Começou muito bem, com um gosto delicioso de novidade, uma garra para escrever (costumo começar meus textos sempre manuscritos… é um ritual, com caneta e caderno próprios para isso), anotações para todos os lados, pesquisas na internet, tudo uma diversão, afinal estava relendo uma das minhas mais carinhosas referências.

Foi bem até que comecei, eu mesmo, a me cobrar e vi o tamanho da encrenca que havia começado. Sinto dizer que parei no terceiro álbum.

Não pretendo retomar esse projeto tão cedo. Na verdade, estou engavetando-o, oficialmente, com este texto. Pode não ser definitivo, mas será enquanto durar. Antes disso, fiz uma revisão do que já havia escrito e percebi que merecia uma atenção.

Há muita história, coletiva e pessoal, nessa amizade de décadas. Primeiro, por ser um dos primeiros quadrinhos totalmente fora dos padrões com os quais estava acostumado, lá no final dos anos 70 para os 80. Maior do que os “gibis” convencionais, sem magníficos e profusos super-heróis, com uma única aventura cheia de graças e piadas que exigiam pesquisa para entender. Era europeu, considerado leitura e não entretenimento.

Pouco depois de descobrir os quadrinhos (talvez tenha sido simultâneo…), vieram os desenhos animados. Asterix sempre foi uma sequência de descobertas, procurando os álbuns antigos pelas livrarias do centro da cidade, conversando com os amigos para saber se faltava algum (afinal, internet só depois de mais de 20 anos… internet decente, demorou mais), encontrando as explicações para algumas das referências e piadas nas histórias. Isso criou uma das minhas primeiras redes sociais, sem tecnologia envolvida para que existe, só o bom e velho convívio com amigos, de todos os tipos, idades, cores, sexos, em encontros para conversar do que vimos no colégio, alguma colega que está ficando mais interessante para os olhos dos moleques bobos, música, filmes, televisão, tudo o que esse pessoal estava descobrindo.

Havia brigas, claro. Ninguém concordava com nada, nunca. Sempre havia uma verdade que deveria prevalecer. Provocações e apelidos sendo despejados como uma erupção do Vesúvio. E, no meio de tudo, alguém dava um belo “esporro”. Às vezes, era eu, em outras, tomava essa bronca. Lembro de uma que foi perfeita para lembrar aqui: no meio de uma discussão que queria definir, finalmente, se “Guerra nas Estrelas” ou “Jornada nas Estrelas” era melhor (melhor em quê?), um dos amigos levantou, bateu na mesa da lanchonete e disse, alto…

“POR BELENOS E TUTATIS, SÃO LOUCOS ESSES CARAS”!

Todos, até as mesas dos lados, pararam e ficaram quietas. Durou pouco. Sem nenhuma exceção, veio uma gargalhada ensurdecedora e a vida seguiu com uma leveza típica. O curioso é que todos nós, 5 ou 6, estávamos lendo e carregando um álbum de Asterix naquele dia!

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