Você se sente seguro?

Já refletiu sobre o que significa segurança para você? Para algumas pessoas, a segurança pode ser andar tranquilamente pelas ruas sem ter medo de ter seu celular ou carteira roubada. Para outras, a segurança é poder andar tranquilamente na rua e não ser assediada, agredida verbalmente e/ou fisicamente, ou pior, ser morta. Na esfera privada, para algumas pessoas, segurança pode ser a sensação de tranquilidade ao ter grades nas janelas, portas trancadas, e ter um sistema de segurança contra um perigo externo. Para outras, segurança é a de ter um lar acolhedor, um espaço onde não haja violência, de qualquer tipo, por parte de familiares, parceiros e cônjuges; onde você é aceito pelo que você é. Não estou dizendo que essas noções de segurança são “ou isso ou aquilo”. Elas se misturam. Mas há uma diferença muito grande entre o que seria “prioridade” em relação à segurança e a se sentir segura; e isso tem muito a ver com privilégios.

Em um país como o Brasil, marcado pelo machismo, pelo racismo e pela homotransfobia, e tantas outras discriminações, é possível se sentir seguro? Não é possível. Diversos casos de violência, ódio, discriminação e abusos contra mulheres, contra a população negra e contra pessoas LGBTQIA+ ao redor do país são noticiados e denunciados diariamente nos diversos jornais e redes sociais. Todos os dias, a sociedade reproduz e presencia essas violências. Como nos mostram pensadoras feministas negras, como Patrícia Hill Collins, Kimberlé Crenshaw, Angela Davis e tantas outras, as desigualdades, discriminações e violências se entrecruzam. A interseccionalidade, conceito chave para as análises comprometidas com a justiça social (COLLINS e BILGE, 2021), se mostra como uma importante lente de análise para identificar e problematizar essas conexões e experiências de insegurança frente à violência e à discriminação enfrentadas por muitas pessoas no nosso país.

Para pensarmos sobre essas questões de insegurança, vejamos alguns números. Segundo dados apresentados no Anuário de 2021 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ocorreram no ano passado 1.350 feminicídios. Destas mulheres, 61,8% eram negras e 81,5% foram mortas por companheiros ou ex-companheiros. Segundo o documento, em 2020, houve um chamado de violência doméstica por minuto, pelo disque denúncia. Outro dado alarmante é o de estupros. Segundo o Anuário, foram registrados no ano passado 60.460 casos de estupros, sendo 86,9% do sexo feminino e em 85,2% dos casos o autor era conhecido da vítima (FBSP, 2021). No país onde mais se mata por homotransfobia, a violência contra pessoas LGBTQIA+ em 2020 também foi grande. Segundo dados do Anuário, foram registrados 1.169 casos de violência e 121 assassinatos no Brasil (FBSP, 2021).

Pensando no entrecruzamento dessas violências e discriminações, é possível se sentir segura no Brasil, não temendo pela sua vida e integridade, sendo mulher, negra(o) ou LGBTQIA+? Não é possível! E essa realidade não afeta apenas mulheres. Homens negros e brancos que são LGBTQIA+ também sofrem com violências estruturais da cisheteronormatividade. O Brasil é um país muito violento para quem não é homem, cisgênero, branco e heterossexual, e isso precisa ser amplamente discutido em todos os espaços. Isso é estrutural. Tendo isso em mente e retornando às noções de segurança acima mencionadas, se a sua prioridade está mais relacionada às questões materiais, e não tanto com a sua vida e integridade, por ser quem você é, muito provavelmente você é privilegiado. Você já refletiu sobre a sua noção de segurança? Já refletiu também se você pode estar sendo a razão da insegurança de alguém? Diga não à violência!

Disque 180 – Violência contra a mulher

Disque 100 – Violação dos Direitos Humanos

REFERÊNCIAS:

COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Editora Boitempo, 2021. Tradução de: Rane Souza.

Segurança em números (infográfico). In: Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021. São Paulo, 2021. p. 14-15. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021/07/anuario-2021-completo-v6-bx.pdf . Acesso em: 20 jul. 2021.

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