LIMITES: FICÇÃO OU REALIDADE? – Parte 3

Entendo profundamente ter medo, aquele mais infantil, que faz parceria com o susto, depois de assistir a “Tubarão”, ou ficarmos críticos e atentos às grandes empresas porque vimos “Síndrome da China”. São referências possíveis: uma, se repete de tempos em tempos, com algum banhista ou surfista; a outra, infelizmente, assolou nosso país duas vezes: Mariana e Brumadinho. A primeira, é uma força da natureza; a segunda, um desrespeito a ela causado por nós, que também inclui a humanidade entre seus filhos.

“O Enigma de Andrômeda”, segundo alguns conspiracionistas, foi o prólogo para o que vivemos neste início dos novos anos 20. Sem falar do sugestivo “Epidemia” e de algumas barras forçadas, muito forçadas, em relação a “The Walking Dead”.

Vamos exercitar mais um pouco: lembra da garota que surtou com o “Exterminador”? Foi um caso extremado, talvez já com algum histórico. O filme pode ter agido como um “gatilho”, mais uma “palavra da moda”. Acredito que ela tenha necessitado de muita atenção depois desse episódio e desejo com todas minhas forças que tenha se restabelecido e superado.

Então, me diga, como foi sua relação com os últimos medos da Cultura Pop?

Antes de responder, deixe-me esclarecer que não estou fazendo qualquer juízo de valores em relação à qualidade das obras, se são bem feitas ou não, se são apelativas ou infantis, nada disso. Esse texto ficará para outro dia. O que provoco aqui é seu pensamento sobre como você se relaciona com esses estímulos, como você responde a eles, como você convive com eles.

Agora, sim, pode seguir: houve algum gatilho acionado por algum filme, livro, HQ? Algo que fez você perder o sono para pensar? Não devem ser obras das mais fáceis, mesmo porque os medos que exploram estão muitas vezes tão presentes que se tornam invisíveis, desapercebidos. O consumismo extremado, o preconceito velado, a xenofobia disfarçada, a ameaça à integridade física, mental e moral, a degradação do meio ambiente.

Considero essas as grandes ameaças, o Grande Mal que nos ronda. Não tem uma bocarra cheia de dentes querendo devorá-lo por instinto ou sugar o sangue da sua jugular. Não tem uma forma, um corpo. Não é o mal incorporado em um boneco ou em um Plymouth Fury 1958. É o mal disperso, que ronda em busca de uma oportunidade, com uma sensação de presença constante.

Essa ameaça nos força a permanecer atentos aos outros e a nós mesmos!

Nosso cotidiano, se você observar com cuidado, foi colocado em risco por um vilão muito mais assustador do que qualquer imaginação poderia ser capaz de produzir.

Esse vilão tem nome: dúvida! E ele tem um lugar onde habita: dentro de nós!

Mais um passo para dentro desse mundo: como ficamos quando aquilo que nos é mostrado, em horário nobre, subverte qualquer limite entre a realidade e a fantasia? O encontro com situações que poderiam ter sido fruto da imaginação de algum roteirista com tendências sádicas, mas que, infelizmente, são a realidade com a qual convivemos, mesmo à distância física segura garantida pela televisão. Podemos atravessar o planeta para vermos lugares belíssimos, da mesma maneira que atravessamos paredes e nos encontramos dentro de um hospital ou uma comunidade. A parede que separa nossa sala de estar daqueles locais mostrados na tela é facilmente derrubada, seja por nossa constituição emocional e afetiva, que se compadece e compartilha daquela situação, seja por algum estímulo embutido na informação, que pode ser desde um enquadramento de câmera mais intimidador até um fundo musical que nos afeta quase que inconscientemente.

Há alguns anos passamos a conviver com atitudes que foram definidas como “discursos de ódio”. Expressões como “demonização” e qualquer coisa que antecede o termo “tóxica” tornaram-se rótulos empregados por algumas pessoas que sequer ponderam sobre o significado daquilo que falam. Algumas outras palavras que definem ideologias sociais e políticas foram promovidas ao patamar de xingamento.

O combate a esse vilão não é simples, pois não depende de alguma magia ou salamaleque para espantar um fantasma birrento, ou uma arma high-tech que dispersa aquela monstruosidade pelos cinco cantos do universo. Só seremos capazes de enfrentá-lo com a certeza dos nossos atos, com o respeito ao outro sem submissão, com o conhecimento que a ciência nos proporciona, com os ideais que movem uma conduta humana e construtiva, com o olhar para o outro e perceber que, sim, ele também tem esse monstro da dúvida dentro de si.

Talvez, o primeiro passo nesse combate esteja em deixarmos claro que não há do que duvidar a nosso respeito.

A honestidade, íntegros, brilha os olhos.

A mentira, duvidosos, deixa-os opacos.

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