Líder do PSDB na Câmara Federal, deputado Rodrigo de Castro, considera “caótica” gestão do governo Bolsonaro durante a pandemia

Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados.

Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados.

“Ninguém pode ser favorável à atuação do governo na área da Saúde durante a gestão de Bolsonaro, especialmente, durante a pandemia”.

Vindo de berço político, Rodrigo de Castro atua como deputado desde 2006, foi duas vezes o deputado federal mais votado de Minas Gerais, em 2006 e 2010, e atualmente ocupa a posição de líder do PSDB na Câmara, mantendo uma relação de apoio ao governo em pautas econômicas, porém críticas aos temas ideológicos.

Em nossa conversa, o deputado mineiro avaliou a gestão da saúde do governo Bolsonaro durante a pandemia que, para ele, tem sido “caótica”. “Os números e a mortandade demonstram isso, além das quatro trocas de ministros [da Saúde]. Isso mostra que, com certeza, não funcionou. Nós estamos hoje trabalhando, fiscalizando, apontando os erros, mas também, buscando soluções.

Mas apesar de sua avaliação negativa em relação ao governo, o deputado Rodrigo de Castro não considera que, neste momento, “um processo de impeachment seja instrumento adequado para se fazer oposição”. Ele ressalta que um processo como este dura por volta de um ano e, estando em abril, terminaria na eleição do ano que vem para presidente.

Foi pauta desta entrevista também a volta do ex-senador Aécio Neves aos holofotes, assumindo a Comissão de Relações Exteriores; a atuação do PSDB na câmara e a relação com o governo; além do projeto do partido para a próxima eleição que, segundo o deputado tucano, pode desistir de encabeçar uma chapa para presidência da república. “No momento em que o PSDB está procurando formar uma ampla aliança, é lógico que também ele tem que estar preparado e ter o desprendimento de saber que pode ter que emprestar um quadro ou apoiar um outro nome”.

Confira a entrevista completa:

Caio Barroso (CB) – Qual a maior herança que o senhor traz de seu pai Danilo de Castro?

Rodrigo de Castro (RC) – Claro que o meu pai foi uma referência para mim, por toda a sua trajetória. Primeiro, na Caixa Econômica Federal, depois como deputado e em seguida como secretário. E acompanhando toda essa trajetória, naturalmente eu fui me sentindo estimulado e participando cada vez mais, até que as pessoas começaram a ver em mim uma perspectiva de liderança e dar sequência ao seu trabalho. E, assim, comecei na política.

CB – Desde 2006 atua como deputado federal. O senhor considera pleitear outros cargos?

RC – O trabalho de um deputado federal é muito desgastante, mas também, eu me sinto realizado. É claro que a gente nunca sabe o que vem depois na nossa trajetória, eu já trabalhei no Executivo como chefe de gabinete do então secretário Anastasia, e no início não imaginava que fosse logo em sequência me candidatar a deputado federal. Então, eu me dedico ao máximo ao meu mandato. O que vem depois a gente não sabe.

CB – Qual o projeto de maior relevância que já apresentou nesses anos de mandato e como impactou na vida dos mineiros?

RC – Minha atuação na Câmara dos Deputados é muito voltada para a defesa do municipalismo. Nós sempre defendemos os municípios e a perspectiva de ajudá-los. Um projeto que realizou muito aqui na Câmara foi quando eu fui relator da MP-915, que tratava da venda dos bens inservíveis da União. Ela teve um impacto financeiro muito forte, abre a perspectiva de a gente sanar vários problemas sociais, nós temos muitas invasões, pessoas que já estão com o direito à área e o governo interessa passar para elas, mas não havia um instrumento e agora há; então, é um instrumento de justiça social e, ao mesmo, tempo de dar uso a milhares de imóveis que hoje estão abandonados em locais estratégicos e que a partir da aprovação dessa medida poderão ter uma destinação digna. Além disso, quando eu fui presidente da Comissão de Minas e Energia, também pude ajudar muito, trabalhar em um momento crítico para o Brasil, que foi durante a crise energética do governo Dilma.

CB – Como líder da bancada do PSDB na Câmara, quais são suas principais atribuições e como se dá a relação da bancada com o governo federal?

RC – A liderança do PSDB é uma responsabilidade muito grande, é um partido de grande tradição na Câmara. Nós estamos vivendo em um momento em que o Brasil precisa muito da gente, de apoio às pautas econômicas relevantes, e ao mesmo tempo, para a nossa cobrança de ações efetivas, especialmente na área da Saúde, neste momento da pandemia. Temos uma relação com o governo de apoiar os temas econômicos relevantes, mas muito críticas aos temas ideológicos.

CB – Como avalia a atuação do PSDB nos últimos anos? 

RC – O PSDB tem uma história no Brasil que tem tudo para se orgulhar dela. Foi o partido que mudou o Brasil com os governos de Fernando Henrique Cardoso e foi o melhor governo da história de Minas moderna; os 12 anos em que estivemos no governo em nosso estado. É claro que a vida partidária implica momentos diferentes. Neste momento, é um momento de, com certeza, recomeço do PSDB, é um partido de grandes quadros, que tem propostas modernas e que eu acredito muito.

CB – O PSDB avalia, para uma possível candidatura do Planalto, abrir mão de ser cabeça de chapa. O que poderia motivar essa decisão, caso realmente esteja em pauta?

RC – É claro que o PSDB quer indicar o candidato à presidência da República, esse é o nosso desejo e temos quadros qualificados para isso. Mas no momento em que o PSDB está procurando formar uma ampla aliança, é lógico que também ele tem que estar preparado e ter o desprendimento de saber que pode ter que emprestar um quadro ou apoiar um outro nome. Ninguém tem o monopólio dos nomes em uma disputa à presidência quando você quer montar uma grande aliança para o país, uma liderança de centro. 

CB – O ex-governador Aécio Neves, agora colega de congresso, esteve um tempo fora dos holofotes e agora volta a ficar em evidência ocupando a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. O que representa para o PSDB a retomada de uma figura que já liderou o partido em Minas e a nível nacional?

RC – O deputado Aécio Neves, ex-governador, ex-senador da República, é um grande nome do PSDB, um quadro qualificado, respeitado e que, com certeza, vai fazer um grande trabalho à frente da Comissão de Relações Exteriores, já que sempre teve destaque em todos os cargos que ocupou durante a sua vida. 

CB – Acredita que o deputado Aécio Neves futuramente tenha espaço para pleitear cargos majoritários?

RC – Espero que o Aécio possa cada vez mais melhorar a sua atuação. Da mesma maneira, como é um projeto para mim, é um projeto para ele, cada etapa a gente tem que fazer no seu tempo. Agora, é tempo de ele ser presidente da Comissão de Relações Exteriores, momento que o Brasil precisa muito desta interlocução e ele pode ajudar o país.

CB – Como o senhor e o PSDB avaliam a gestão do governo Bolsonaro via Ministério da Saúde na pandemia?

RC – É claro que ninguém pode ser favorável à atuação do governo na área da Saúde durante a gestão de Bolsonaro, especialmente, durante a pandemia. Nós tivemos uma gestão caótica, os números e a mortandade demonstram isso, as trocas de ministro, estamos no quarto, durante a pandemia. Isso mostra que, com certeza, não funcionou. Nós estamos hoje trabalhando, fiscalizando, apontando os erros, mas também, buscando soluções.

CB – A rejeição do presidente Jair Bolsonaro tem crescido, e cresce também o número de pessoas que acreditam que ele deve sofrer impeachment. Gostaria de saber qual sua opinião sobre um possível processo de impeachment.

RC – Olha, um processo de impeachment dura por volta de um ano. Estamos em abril de 2021. Então, nós teríamos um processo que terminaria na eleição do ano que vem do presidente da República. Nós já tivemos aí dois processos de impeachment num processo muito curto, se considerar a gravidade deste instrumento, e o Bolsonaro foi eleito sem o nosso voto, mas foi eleito pelo voto da maioria dos brasileiros, e portanto, nós não somos da base de apoio, mas a gente entende que o impeachment não é o instrumento adequado para se fazer oposição ao governo Bolsonaro, e nem a estabilidade do país neste momento.

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