Vou contar até 3…

Por: Caio Barroso

_ “Maria! Pedro! Levanta da cama! Acorda, porque o café já está na mesa”.

Todo dia é a mesma coisa: ninguém levanta e eu preciso ir lá, com toda paciência, para tirá-los da cama. Tem uns dias que mando logo um chinelo na porta do quarto, que é pra assustar, e aí não tem conversa. Precisa ver o pulo que eles dão; rapidinho estão na mesa. Mas quando estou de bom humor – na maioria das vezes -, é abraço e beijinho, que só mãe sabe fazer.

Maria já vai fazer 14 anos e Pedro 12. O pai deles estou esperando já faz uns 12 anos voltar da padaria com um pão que ele ia buscar. De certo não tinha o tal do pão e tão prestimoso que ele era, foi ajudar plantar o trigo, colher, e o resto da história você já sabe: não voltou.

Mas eu não perdi o bom humor e muito menos a coragem de criar meus filhos. Moço! Uma coisa que eu aprendi é que uma mãe consegue tirar força de onde não tem para dar a uma criança. Eu achava que isso era besteira, mas passei por cada coisa que agora eu posso falar que é verdade mesmo.

Eu precisava cuidar de duas crianças; trabalhar; conseguir me manter no trabalho, porque tem preconceito; manter a casa organizada e viver. Até aqui estou conseguindo e é graças a uma força que acredito que é característica da mulher e potencializada quando se é mãe. Não tem nada no mundo que nos impeça de dar o sustento a um filho. A gente enfrenta tudo que vier, porque amamos muito e superamos o que for preciso só para escutar todo dia: “coloca leite pra mim”.

_ Eu choro só de pensar.

Não teve um só dia, desde que descobri que seria mãe, que não pensei neles. Então você imagina como é que esse sentimento mexe com a vida da gente e como que é forte.

_ “Toma o café de vocês, escova dente e depois de arrumarem o quarto a gente vai sair pra comprar as coisas pro almoço”.

Você me desculpe, viu? É coisa de mãe mesmo. Acho que eles vão estar casados e eu vou ligar perguntando se estão tomando banho direito. É um cuidado que só a gente tem.

Esses dias eu estava pensando o quão forte é o sentimento de uma mãe. Olha quanto tempo perdi a minha, mas ainda assim eu consigo sentir o carinho dela, o amor, em tantas coisas na minha vida. Apesar dela não estar mais aqui, é ainda muito presente a força dela, a energia, pela potência do sentimento que é eterno. Dulce era o nome dela. Não conheci pessoa mais iluminada que ela nessa vida.

_ Olha eu chorando de novo.

Deixa eu respirar, que é só pensar nela que dá um nó na garganta e aí a gente encerra nossa conversa. (…)

Bem! Vou seguir vencendo, porque é isso que a gente faz. A gente chora de tristeza também, porque é normal, mas a gente vence muita coisa, porque somos fortes. Quero ser exemplo, amar e ser eterna assim como minha mãe.

Nota do autor:

Dizem que mãe é tudo igual e só muda de endereço. E normalmente falam isso quando o assunto são as populares frases que só as mães falam. O título do conto é uma delas, mas separei mais algumas para finalizar esta publicação.

– Se um dia seu quarto esteve bagunçado você já escutou: 

Isso não é um quarto, é um chiqueiro!

– Se um dia você quis fazer uma tatuagem ou ir a uma festa e quis argumentar:

Quando você for dono do próprio nariz, você faz o que quiser.

– Se você tirou nota baixa e tentou argumentar com “mas todo mundo tirou…”:

Não importa se todo mundo tirou nota baixa, eu não sou mãe de todo mundo!

– Se você esqueceu quem é você na cadeia alimentar da sua família:

Me responde de novo, que eu te quebro os dentes.

– Ao identificar um comportamento muito semelhante ao de seu pai.

Você é igualzinho ao seu pai, IGUAL!

–  O momento drama que toda mãe faz se resume a:

No dia que eu sumir…

– Por fim, o velho terror psicológico após uma cena que você fez no meio de um tanto de gente.

Em casa a gente conversa. (RIP)

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