Amor de Mãe: nem a pandemia fez o público esquecer essa novela

Marcos Pitta

Depois de um ano fora do ar por conta da pandemia, ‘Amor de Mãe’, escrita por Manuela Dias e dirigida por José Luiz Villamarim, vai reestrear na Globo em 1 de março, se nada mais mudar.

Por duas semanas, um compacto do que já foi ao ar vai recordar o público e, em seguida, os 23 capítulos inéditos que já estão finalizados invadem a telinha para mostrar os desfechos dos personagens.

Mas, por qual motivo essa novela é tão boa a ponto de nem mesmo a pandemia fazer o público tirar ela do imaginário? Várias respostas e uma delas, sem dúvidas, é o bom casamento firmado entre roteiro, direção e atuação. 

Tudo é muito sincronizado, o texto de Manuela Dias não tem o que retocar, tudo na medida certa, sem exageros. A direção de Villamarim está no mesmo trilho e não foge do que é proposto no roteiro. É fato que no início, ao optar por uma fotografia mais escurecida, houve dificuldade do público entender o conceito e isso precisou ser mudado, as cenas ficaram mais claras e até um alívio cômico foi inserido através de Lurdes, interpretada por Regina Casé. No entanto, essas mudanças resultadas do grupo de discussão realizado pela emissora, em nada prejudicou o andamento da trama, tudo continuou fluindo. 

‘Amor de Mãe’ é uma inovação quando se fala de novela, mesmo contendo todos os vícios do gênero, porque afinal uma novela só é novela se tiver em seu enredo, coisas que só são possíveis dentro desse gênero do audiovisual. Dias não escreve um filme, como já fez muito bem em ‘A Floresta Que se Move’ (2015 ) e ‘A Hora e a Vez de Augusto Matraga’ (2011) e também não escreve série, como brilhantemente fez com ‘Ligações Perigosas’ e ‘Justiça’, ambas de 2016, ela escreve uma boa novela. 

Apesar disso, essas outras influências estão presentes no modo como a autora desenvolve os diálogos e as cenas de ‘Amor de Mãe’ e isso a faz diferente das outras. Todos os personagens, de alguma maneira, são interligados, isso lembra muito o conceito da série ‘Justiça’, exemplo de roteiro de direção. 

As três protagonistas seguram muito bem a trama: Regina Casé está perfeita, sua personagem virou até fantasia do Carnaval 2020, quais motivos a mais alguém precisa para entender que uma novela caiu nas graças do público quando se vê, pelas ruas, inúmeras donas Lurdes? Vitória, de Taís Araújo, entregou para a atriz um dos melhores papéis de sua carreira, dramático e cheio de camadas. Já Thelma, de Adriana Esteves, é a melhor personagem com construção de gênese* que já vi em uma novela. Quem não acompanhou a trajetória dela está perdendo muita coisa. Carminha dificilmente será ultrapassada, mas Thelma é tão bem construída que você consegue entender e odiar as atitudes dela ao mesmo tempo e tudo é explicado no tempo certo e por mais que o público já saiba a verdade, é preciso entender como a história aconteceu e isso é muito bem explorado. 

Os demais personagens também empolgam, Álvaro de Irandhir Santos, Betina de Isis Valverde, Lídia de Malu Galli, Raul de Murilo Benício e tantos outros marcaram a novela que apresentou muitas cenas memoráveis. Vale a pena maratonar o que já tem no Globoplay e principalmente conferir o desfecho a partir de março. Lembrando que ‘Salve-se Quem Puder’ não teve a mesma sorte e a novela das 19h vai estrear de novo, desde o começo, na íntegra, ou seja, é difícil prender o público após um ano fora do ar e ‘Amor de Mãe’ fez isso. 

*Escrita em primeira pessoa, a gênese narra a vida do personagem, desde o momento em que nasceu até o instante em que entra em cena. Deve procurar sempre manter a coerência com o texto e com os outros personagens, todos vinculados, de alguma maneira, à trama que o texto oferece.

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