Vivendo com o Lúpus

Escrito Por: Gabriela Garrido

No Brasil, cerca de 65.000 pessoas têm a doença, as maiores vítimas são mulheres. 

Aos 20 anos, Natayslla Garcia recebia um diagnóstico de Lúpus, uma notícia devastadora para uma jovem universitária com muitos sonhos.

Com fortes dores pelo corpo, desânimo e cansaço excessivo, Natayslla nem imaginava que seriam os primeiros sinais do Lúpus. Por ter uma rotina desgastante, devido aos estudos e estágio, os médicos relacionavam seus sintomas ao estresse. 

No decorrer do tempo, as dores se tornaram mais intensas, dificultando a realização de atividades cotidianas. Surgiram manchas pelo seu corpo e fortes dores nas costas, agora os rins estavam afetados.

Com o agravamento dos sintomas, em uma nova consulta, na qual exames foram realizados, foi constatado o Lúpus. A partir desse momento a vida de Natayslla mudaria. A primeira internação ocorreu e nos próximos dias sua rotina aconteceria em uma cama de hospital. 

O que é Lúpus

O Lúpus é uma doença inflamatória crônica. Por ser autoimune, o paciente produz anticorpos, que atacam tecidos e células do próprio organismo. 

Segundo a reumatologista Silvia Moura Carvalho, o Lúpus tem alto potencial de afetar diversos órgãos – rins, células sanguíneas, sistema nervoso, pleura e pericárdio, que são membranas, e principalmente a pele e as articulações – e os pacientes com a doença podem apresentar variados sintomas. Os mais comuns são: dor e inchaço nas articulações, queda de cabelo e manchas na pele. 

Em casos mais graves, quando os órgãos internos estão comprometidos, o paciente pode apresentar dores no peito, aumento da pressão arterial, urina espumosa e convulsões.

A doença é mais comum em mulheres na faixa etária de 15 a 40 anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, estima-se que no Brasil, a cada 1.700 mulheres, uma desenvolve a doença.

A incidência da doença em mulheres é maior devido a fatores hormonais, principalmente em idade fértil. O estrogênio, hormônio feminino, pode estimular as células do sistema imunológico que atuam no desenvolvimento do lúpus. 

De acordo com Silvia, o uso da pílula anticoncepcional por mulheres não é proibido, mas é importante ter a supervisão de um especialista.

“É importante conversar com o médico a respeito da contracepção. As pílulas não estão proibidas, mas geralmente recomendamos pílulas de baixa dosagem e que contenham somente progesterona, sem estrogênios. O DIU costuma ser uma excelente opção também”, afirma Silvia.

Alguns fatores contribuem para o desenvolvimento do lúpus. A pessoa nasce com predisposição genética e, quando exposta a fatores desencadeantes – uso de alguns medicamentos, fatores hormonais, exposição ao sol e infecções – iniciam a produção dos auto anticorpos que causam a doença. 

O tratamento 

O tratamento do Lúpus é estabelecido conforme o comprometimento do paciente. No geral, os medicamentos utilizados são hidroxicloroquina, essencial para controlar a doença; corticoides tópicos ou orais; e a fotoproteção, o uso diário do protetor solar. Em casos mais graves, as dosagens de corticoides são elevadas e medicamentos imunossupressores podem ser incluídos. 

O tratamento de Natayslla não foi fácil. Ela engordou 15 kg devido aos medicamentos à base de corticoide. Um AVC (Acidente Vascular Cerebral) resultou em sua internação, e durante duas semanas esteve em uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). 

“O começo do tratamento, no qual passei por sessões de quimioterapia e tomava anticonvulsivos muito fortes, eu só dormia, não entendia bem o que estava acontecendo e tive dificuldades de me locomover. Além disso, as sessões de quimioterapia me faziam muito mal, eu fiquei sem comer bem durante meses, o que me fazia me sentir fraca”, diz Natayslla. 

Vida com Lúpus

Segundo Silvia, apesar do Lúpus não ter cura, a doença pode ser controlada através de um tratamento adequado. Sendo assim, o paciente pode retornar à sua rotina tomando alguns cuidados: evitar exposição solar, alimentação saudável, vacinação, além de visitas periódicas ao reumatologista. Em casos mais graves, o paciente terá mais restrições. Vale ressaltar que os tratamentos têm evoluído e, portanto, as chances de remissão são maiores.

“A maioria dos pacientes  vai   levar   vida normal: estudar,   trabalhar,   fazer   exercícios   físicos   e, inclusive, engravidar, com   planejamento,   acompanhamento   pré-natal   rigoroso  e   com   a   doença   em   remissão”, afirma Silvia. 

A história de Natayslla é repleta de surpresas, mas os desafios da doença não a desanimaram. Hoje, aos 22 anos, a jovem faz de suas redes sociais um espaço para falar sobre o Lúpus, motivando pessoas que estão passando por situações semelhantes. O tratamento e as consultas regulares continuam. Seguindo alguns cuidados, sua vida foi se normalizando. 

Para o futuro, Natayslla almeja levar sua arte para as pessoas, quer ser atriz e escritora, aliás, ela tem muitas histórias para compartilhar com seus leitores. Seu maior sonho é ser mãe. Uma história com um final feliz, pois a doença tornou a jornalista ainda mais forte. 

“O Lúpus me tornou uma pessoa melhor, uma mulher com novos ideais e bem mais decidida em relação aos meus sentimentos. Estar com quem amo e fazer as coisas que gosto se tornaram a minha prioridade.”

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