Os caminhos da vida acadêmica

ESCRITA POR: HENRIQUE ESCHER

Continuar com os estudos na carreira acadêmica é opção para recém-formados que buscam se tornar professor ou pesquisador.

Cursar uma pós-graduação é um desejo de muitos estudantes que buscam um diferencial no currículo ou até mesmo seguir com a vida acadêmica. A pesquisadora Juliana Kawahisa, 33, formada em Biologia, mestre e doutora em Imunologia Básica e Aplicada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e pós-doutoranda no Departamento de Farmacologia na Universidade de São Paulo, fala sobre os caminhos da pós-graduação, atuação na pesquisa, docência e suas possibilidades no mercado profissional.

ComTempo – Por que fazer uma pós-graduação?

Juliana Kawahisa – A decisão de fazer uma pós-graduação vem do desejo da pessoa se especializar em um assunto ou atualizar seus conhecimentos em uma área específica. Além disso, a pós-graduação pode ser uma vantagem na hora de procurar um emprego.

CT – Quais são os caminhos para escolher uma pós-graduação?

Juliana – O primeiro passo é saber qual o seu objetivo: se especializar para conseguir um diferencial no mercado de trabalho ou ingressar na vida acadêmica para pesquisar e lecionar. O segundo passo é procurar uma boa instituição, verificar se o curso é autorizado pelo Ministério da Educação e se é relevante no seu campo de atuação. A existência de conteúdo disponível online, tutores, provas presenciais e infraestrutura também são pontos importantes que devem ser levados em consideração.

CT – Qual o propósito de seguir com os estudos para uma vida acadêmica?

Juliana – No Brasil, quem decide seguir a carreira acadêmica tem por objetivo ser pesquisador ou professor de curso superior e de pós-graduação.

CT – Como é o processo seletivo para entrar na pós-graduação?

Juliana – Isso depende da instituição e do tipo de pós-graduação para a qual a pessoa está se inscrevendo. Pode ser constituída por análise de currículo, prova escrita e didática, entrevista e apresentação de projeto. Para saber isso, é só verificar o edital do oferecimento da vaga para o curso.

CT – Qual a diferença entre pós-graduação lato sensu e stricto sensu?

Juliana – De maneira simplificada, a lato sensu é direcionada para uma atuação profissional e a stricto sensu é voltado para formação acadêmica e pesquisa.

A lato sensu é constituída por especializações e pelo MBA. As especializações são cursos com duração entre um a dois anos, que buscam aprofundar o conhecimento do aluno em um determinado campo de estudo. Por exemplo. Sou bióloga e posso fazer especialização em análises clínicas para atuar em laboratórios de análises clínicas, o que não seria capaz de fazer somente com a minha graduação. Já o MBA é voltado para o profissional que procura atuar área administrativa e gestão. Pode ser para um médico que assumirá a gestão de um hospital, por exemplo.

O stricto sensu inclui o mestrado e o doutorado. O mestrado tem duração média de dois anos e o doutorado de 4 anos. Ambos incluem disciplinas teóricas e o desenvolvimento de um projeto de pesquisa. Ao final do mestrado, a pessoa pode optar por fazer o doutorado. Muitas vagas para professores exigem só o mestrado, mas normalmente, para lecionar em universidades estaduais e federais é necessário possuir o título de doutor. Apesar do mestrado e doutorado capacitarem o profissional a ser um pesquisador, atualmente, no Brasil, essas vagas são praticamente inexistentes.

Durante o mestrado e o doutorado, o principal objetivo é que a pesquisa desenvolvida seja publicada em revistas científicas internacionais.

CT – Qual a diferença de monografia, dissertação e tese?

Juliana – A monografia é o trabalho entregue no final da graduação; a dissertação no final do mestrado; e a tese no final do doutorado. Todas possuem, basicamente, a mesma estrutura, mas o grau de complexidade do trabalho apresentado varia de acordo com o título desejado.

CT – A vida acadêmica é remunerada? Quais os tipos de bolsa?

Juliana – As especializações e MBA normalmente são pagas pelo aluno, que pode concorrer a uma bolsa de estudos pela instituição. Já no mestrado e doutorado, o aluno recebe uma bolsa para desenvolver sua pesquisa. Existem três principais bolsas de estudo: A CAPES e o CNPq (que financiam bolsas no Brasil todo) e a FAPESP (que financia bolsas no estado de São Paulo). Alguns programas de pós-graduação já possuem um número de bolsas disponíveis e, dependendo da colocação na seleção de ingresso, o aluno pode conseguir a bolsa assim que entra na pós-graduação. Em outros casos, o aluno precisa solicitar uma bolsa quando ingressa no programa de pós-graduação e pode ficar sem bolsa por longos períodos.

CT – Quais são as dificuldades em seguir com a carreira acadêmica?

Juliana – Desenvolver uma pesquisa exige um grande comprometimento pessoal. Serão longas horas de trabalho, finais de semana e feriados, restringindo o tempo de lazer e em família. Outro ponto é o valor das bolsas. Anos se passam sem reajuste e o valor pode não ser o suficiente para que a pessoa se sustente sozinha. Além disso, com os atuais cortes orçamentários, há o risco constante de ficarmos sem bolsa. Por conta do grande fluxo de trabalho, não é possível conciliar um emprego com o mestrado e doutorado. Por último, mas não menos importante, o esforço físico e mental pode gerar ansiedade e depressão, cada dia mais comuns no ambiente acadêmico. Assim, considero importante que a família e os amigos deem suporte para quem decida ser pesquisador.

CT – Como a falta de investimento do setor público pode afetar a produção científica do país?

Juliana – A falta de investimento é uma perda para todos. Desenvolver pesquisas de base para ampliar compreensão de fenômenos naturais, criação de medicamentos, formação de pessoas e recuperação social, movimenta toda a economia do país.

CT – Quais são as possibilidades da produção científica para o pesquisador?

Juliana – Todo o trabalho desenvolvido visa gerar uma publicação em revistas internacionais, que disseminam o conhecimento e contribuem para a construção do conhecimento nos mais diversos temas. Além das publicações, os trabalhos são apresentados em congressos, simpósios, conferências, contribuindo para a disseminação do conhecimento.

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