ESCRITA POR: KIMBERLY SOUZA
“Nossa mente não sabe lidar com algo que não tem repertório de enfrentamento, e nisso vamos buscar inúmeras formas de atenuar nosso sofrimento”, explica psicóloga.
Mais do que um fator físico e social, a pandemia da Covid-19 tem impactado diretamente a saúde mental de muitas pessoas, principalmente os que ficaram mais fragilizados com essa nova realidade – como as pessoas que perderam o emprego e os profissionais da saúde – e também as pessoas que já são vulneráveis psicologicamente, enfrentando doenças como depressão, transtornos de personalidade, e que ficaram sem atendimento psicoterápico e psiquiátrico, e sem suporte social.
Por isso, a ComTempo conversou com a psicóloga Michelly Vanzella sobre os impactos da pandemia em contexto individual e coletivo, além de dicas de como manter o equilíbrio nesses tempos.
A mente interpretando uma pandemia
Vanzella explica que uma pandemia é interpretada como contratempo e o cérebro não sabe lidar com algo que não tem repertório de enfrentamento: “e sabendo que os métodos preventivos, as práticas de higiene, o distanciamento social, são nosso único remédio, tudo isso, assusta ainda mais, pela imprevisibilidade do amanhã. Nisso, vamos buscar inúmeras formas de atenuar nosso sofrimento, seja negando o fato ou aumentando as paranoias, cada um terá sua forma de lidar”.
Embora esse seja um evento coletivo em que a angústia é ampliada por todo o planeta, o fato de existirem pessoas na mesma situação pode fazer com que exista um suporte para enfrentar de forma saudável a pandemia: “e isso nós devemos à tecnologia, que nos aproxima uns dos outros. O fato é, mesmo que não queiramos, nossas relações serão modificadas e sofrerão muitas adaptações forçadas, em prol da sobrevivência”.
Mudanças bruscas
Dentre os impactos, a psicóloga afirma que o fato de o vírus mudar a vida, rotina, trabalho, lazer e convívio social, afeta diretamente a saúde mental das pessoas.
“É importante refletirmos que a pandemia está interligada a todo nosso contexto de vida, gerando muita angústia, ansiedade, medo e outros desconfortos psicológicos, ocupando um papel de gatilho para muitas outras questões internas”.
Como amenizar?
O acompanhamento com um psicólogo é essencial dentro e fora da pandemia. Porém, em razão do distanciamento social, os atendimentos presenciais foram suspensos e as sessões online nem sempre são confortáveis aos usuários.
“Mesmo assim, é preciso buscar suporte através das ferramentas, como ligações, vídeo-chamadas, mensagens. São por meio delas que vamos tentar nos manter saudáveis, próximos um dos outros, recebendo e dando carinho e atenção aos amigos e familiares, esses são fatores essenciais de proteção nesse momento, e vão nos auxiliando a caminhar com mais leveza. Também é importante nos permitir um momento para esvaziar, assistir, um filme, cozinhar, cantar, brincar, ou mesmo fazer nada. Tirar a tensão do dia-a-dia, dar um respiro, para poder olhar para o todo de uma outra maneira”, indica Vanzella.
Negação dos fatos
Desmentir ou desacreditar do momento em que estamos vivendo pode ser uma estratégia da mente para se proteger dos traumas.
“Há quem vá buscar informações e usar para se proteger e se prevenir, mas também há pessoas mais fragilizadas, em que o conhecimento dói, é demais saber que estamos em uma pandemia e que muitos ficarão doentes ao mesmo tempo e morrer. Todos nós sabemos do risco da perda iminente, e às vezes ficar indiferente ou negar é uma forma de se proteger desse caos, para não romper com a realidade e não surtar”.
Por isso, o diálogo é essencial: “Pois por mais dolorosa que seja, temos que entrar em contato com a realidade, entendê-la, percebê-la, para assim também podermos enxergar que nossas ações vão além do singular e que afetam a proteção do outro, e um outro que não é distante, que é familiar e importante em nossa vida. Portanto, para proteger o outro, temos que nos proteger, e só conseguimos fazer isso, compreendendo, conhecendo e aceitando a real situação do contexto”.
A ComTempo tem como principal objetivo, abordar temas que precisam de mais liberdade, atenção, aprofundamento e espaço para discussão na sociedade.