“Aposto na medicina coletiva”

ESCRITA POR: MARCOS PITTA

Estudante conta sua rotina durante a pandemia e fala sobre as mudanças que o momento pode trazer para sua futura profissão.

Com a pandemia do novo coronavírus, todos os holofotes se acenderam para essa problemática pela qual não só o Brasil, mas o mundo, enfrenta. Os médicos, enfermeiros e toda a equipe de trabalhadores da área da saúde ganharam ainda mais visibilidade por estarem na linha de frente, salvado vidas, todos os dias, e colocando as suas em risco.

Com esses profissionais já formados em ação, como fica o pensamento sobre a gravidade dos fatos atuais para quem está pensando em seguir a carreira na medicina? Como o ensino à distância, adotado em todas as universidades, está impactando esses alunos? E que mudanças a pandemia pode trazer para a profissão?

A ComTempo buscou respostas para todas essas perguntas em mais uma de suas reportagens desta edição sobre a pandemia. O entrevistado foi Lucas Alves Baggio Esteves, estudante de medicina, que comentou suas perspectivas sobre o cenário provocado pela Covid-19, o método das aulas à distância e o que pode mudar na forma de trabalho da carreira que ele está estudando para conquistar. 

O estudante conta, durante a entrevista, que existe uma dificuldade em manter a autodisciplina e fazer a conciliação entre estudos e lazer: “Até então, estar em casa era sinônimo de relaxamento e reposição de energias”, mas isso não o impede de continuar se informando e estudando sobre sua área.

Lucas participa de cursos de extensão e acompanha aulas e palestras promovidas por videoconferências relacionadas ao assunto: “Faço isso para além de me manter informado, conseguir orientar o próximo”, explica.

Sobre o direcionamento das aulas, o estudante conta que o planejamento de ensino da instituição está sendo seguido conforme o programado: “Não estamos com foco no Covid-19, existe um cronograma semestral que deve e está sendo cumprido”.

Rotina e a turbulência de informação

A ComTempo conversou com o jovem estudante sobre como ele tem lidado com a saturação de notícias publicadas o tempo todo sobre o assunto, e Lucas diz ser impossível acompanhar todas as informações, “uma vez que milhares de notícias são publicadas ao longo do dia. Acredito que contestar seria egocêntrico demais, entretanto, procuro informar-me diante da situação que o mundo enfrenta”.

Enquanto tenta conciliar a turbulência de informações, Lucas também está consciente em relação ao isolamento social proposto pelo governo do estado de São Paulo, onde ele vive: “A rotina está baseada em isolamento junto aos familiares, conciliando estudos, leituras e exercícios físicos individuais, além de encontrar tempo para assistir filmes e séries”. O estudante explica ainda que quando há a necessidade de sair de casa, “todos os cuidados recomendados pela OMS são tomados”.

Já em relação às pessoas que não leva o isolamento a sério, o estudante se diz no direito de acolher e orientar: “Nem todos possuem o ‘privilégio’ de conhecer as consequências da falta de empatia durante uma pandemia”.

O que pode mudar no trabalho do médico e no mundo pós pandemia?

Será que todos os estudantes, não somente os de medicina, mas de todas as outras áreas, estão refletindo sobre o que pode ser alterado na rotina e no ambiente de trabalho da sua profissão? Para o estudante, especificamente na medicina, haverá mudanças na forma de se trabalhar e isso não acontecerá apenas no Brasil, mas no mundo inteiro: “Ao meu ver, nos países afora, a medicina é tratada de forma individualista, manuseando-se a enfermidade específica do paciente em busca da cura. No Brasil, felizmente, dispomos do Sistema Único de Saúde (SUS) que mesmo com suas dificuldades, exerce um papel fantástico na saúde do país. Esse sistema aborda não só o tratamento das enfermidades de forma interdisciplinar (através de médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e demais profissionais da área) mas, também, a orientação e prevenção, de forma coletiva”, exemplifica. 

Para Lucas, a pandemia irá reforçar a consciência do tratamento coletivo feito pela equipe em sua totalidade e, especificamente, o Brasil poderá fazer com que o sistema de saúde seja um modelo para os demais: “Aposto na medicina coletiva, sendo a prevenção o nosso melhor e maior remédio para todas e quaisquer patologias da área médica”. 

O jovem acredita também no aumento do individualismo junto a valorização de viver cada momento, “já que, para muitos, esse período (de quarentena) está sendo de reflexão e autoconhecimento”.

Na profissão, ele espera muitas coisas: “Não sei dizer em específico pois não sou especialista da área, mas garanto que a neuroplasticidade, como sendo algo fantástico, já reinventou e continuará reinventando muitas pessoas frente às novas experiências”. Já em relação aos cuidados, Lucas aposta que as pessoas estão criando uma nova geração com ênfase no autocuidado, “então pode-se dizer que o aumento da higienização das mãos permanecerá em alta, mas em relação ao uso das máscaras, acredito que esse método poderá ser utilizado em casos mais específicos, como resfriados e gripes, por exemplo”.

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