A influência da alimentação na vida do jovem pré-vestibulando

A influencia da alimentação na vida do jovem pré vestibulando

Por: Ana Clara Hernadez

Durante o Renascimento em Roma, o culto da forma corporal era explorado exponencialmente através das esculturas neoclássicas. A seguir na linha cronológica, a estética indicava poder e riqueza, na Monarquia Europeia.

Paralelamente, a estética e o culto da forma do corpo, estão presentes na vida de muitos estudantes, sendo uma de suas questões pessoais, podendo até ser um empecilho na busca de sua vaga na faculdade pois, estes se entregam muitas vezes a dietas de low ou high carb – siglas americanas para designar dietas de baixo e alto teor de carboidrato – sem acompanhamento nutricional e sem práticas de exercícios, o que dificulta no processo de aprendizagem.

Antes de tudo, é fato que 80% dos adolescentes não praticam exercícios físicos o suficiente (De acordo com a Folha de São Paulo). Além disso, 55% do jovens mantém uma alimentação inadequada (de acordo com o Portal R7).Sob esse viés, um estudo, publicado no jornal científico Physiological Reports, observou 76 estudantes do ensino médio no Alabama, nos Estados Unidos e obteve o seguinte resultado: os  adolescentes que consumiam grandes quantidades de sódio e pouco potássio tinham maiores chances de reportar frequentes sintomas de depressão, mesmo após ajustar outros fatores como idade, níveis de hormônios e Índice de Massa Corporal (IMC), que eventualmente pode prejudicar na rotina estudantil.

Em consonância, é possível dizer que a alimentação e o psicológico podem ser grandes aliados nos estudos, porém podem ser grandes vilões, se o indivíduo não administrar bem esses dois campo.

Para entendermos melhor os efeitos da alimentação no jovem estudante, a ComTempo entrevistou o Nutricionista Diogo Círico e o graduado em psicologia Rafael Macedo, respectivamente.

CT: O estresse durante a fase pré-vestibular pode gerar alguma mudança no metabolismo do jovem, causando o acúmulo de gordura?

Diogo: Nosso metabolismo é regido por hormônios, atividade física, rotina de vida, alimentação consumida, entre outros. Os hormônios são os maiores influenciadores, ou talvez os mais importantes, uma vez que um indivíduo pode ter uma rotina de treino adequada, alimentação adequada, mas por algum fator pode ter comprometida sua produção hormonal. Estresse é uma das situações onde há grande influência sobre a produção destes elementos, nestes casos o indivíduo estressado produz maior quantidade de um hormônio chamado cortisol. Ele é produzido pela glândula suprarrenal, embora essencial ao organismo, em altas doses ele aumenta a pressão arterial e o nível de açúcar do sangue. Ele também diminui a massa muscular. Além disso existe um elemento intrínseco à grande parte dos indivíduos pré-vestibulando: a ansiedade. Ela pode fazer com que a alimentação seja uma válvula de escape e com isso haverá aumento do consumo alimentar, neste caso o aumento de peso e gordura acontecerá independente de desregulação metabólica. Quando estão passando por períodos estressantes, as pessoas tendem a mudar seus padrões alimentares. Geralmente, as pessoas estressadas desenvolvem compulsões alimentares. Elas apresentam um consumo baixo de vitaminas e minerais, que regulam o organismo, e alto de gorduras saturadas e trans e de carboidratos refinados.

CT: Qual é a maior falha que o estudante comete ao tentar manter uma dieta com altos níveis de carboidrato, através da ingestão de produtos como enérgicos, para se manter focado aos estudos?

Diogo: A maior falha está justamente no excesso! Consumo de carboidrato não faz aumentar as taxas de gorduras, tomar uma lata de energético ao dia não representa excesso de açúcares, o problema está no fato de não ser uma unidade. Uma dieta rica em carboidratos por si não é capaz de mudar o peso de um indivíduo a menos que ele esteja ingerindo mais calorias do que o seu corpo gasta. Vestibulandos que não fazem atividades físicas terão um gasto calórico baixo, isso deixa mais fácil acontecer um superávit calórico e assim o aumento das taxas de gorduras. Mas é importante entendermos que o aumento destas taxas só acontecerá no momento em que o consumo calórico ultrapassar os gastos. 

CT A prática de exercícios físicos pode ajudar nos estudos e na concentração?

Diogo: Sim, pode ajudar muito! Novamente voltamos a falar sobre a importância dos hormônios na regulação em nossas funções orgânicas. Quando engajado numa rotina de atividade física, ganha-se o poder de desenvolver células cerebrais, criando novas conexões interneurais e mantendo a mente sempre jovem e ativa.

CT: Qual a dieta que você indicaria para um jovem que tem por objetivo manter-se saudável e ainda ter energia para as horas de estudo?

Diogo: Dieta é o nome técnico para “consumo alimentar”, ou seja, tudo o que nós ingerimos ao longo do dia é nossa dieta. O consumo alimentar de vestibulandos deve ser o mais saudável possível, isento de produtos ultra processados e industrializados. A alimentação deve ser rica em vegetais de todas as cores, carnes e derivados magros, leite, ovos e seus derivados. A dica especial seria o consumo/suplementação de Ômega-3, nutriente que possui relação direta com o desenvolvimento cognitivo e memória, porém a dieta do brasileiro é naturalmente pobre nesse nutriente. 

Entrevista com Rafael Macedo, graduado em Psicologia pelo Centro Universitário Unifafibe e Pós-Graduando em Direitos Humanos pela Faculdade São Luiz de Jaboticabal.

CT: Como uma má alimentação pode afetar o psicológico do estudante?

Rafael: Para todas as pessoas indica-se sempre uma alimentação saudável, isso independe da ocupação que essa pessoa exerça. Cada pessoa tem seu hábito alimentar e desta forma, se o estudante notar que seus hábitos alimentares estão interferindo na qualidade do seus estudos ou em outras atividades, deve procurar ajuda de um profissional para tratar das questões  alimentares e também para verificar o que está sendo o causador da mudança negativa de seus hábitos alimentares. No entanto não existe uma relação direta, um nexo causal que afirme que uma má alimentação irá interferir diretamente o psicológico do estudante, há de se investigar vários fatores para depois poder levantar uma hipótese diagnóstica.

CT: Quais as doenças psicológicas que uma má alimentação pode causar no estudante, visto que este já passa por uma fase em que ansiedade se encontra alta?

Rafael: Uma má alimentação irá afetar o estudante de diversas formas, tendo em vista que a alimentação é o combustível para o corpo. Se o estudante não se alimenta bem, todo o corpo irá sentir por isso. A má alimentação não irá gerar uma patologia psicológica, mas pode ser um sintoma de alguma patologia.

CT: Por que os estudantes recorrem à uma dieta de má qualidade nesta fase da vida?

Rafael: Cada estudante, de acordo com seu histórico de vida e condição atual, poderá recorrer a uma forma distinta de alimentação, isso pode ter relação cultural, social, familiar, entre outros. Quando estudante está passando por um período ansiógeno, ele pode recorrer a diversas formas de alimentação. No entanto, isso não quer dizer que todo estudante que está passando por um período desse, irá se alimentar de forma inadequada.

CT: Qual é o seu conselho para que o estudante tenha uma mente tranquila e não recorra a uma dieta inadequada?

Rafael: De forma geral, o período do colégio, de estudos, provas, simulados e diversas atividades acabam gerando ansiedade no aluno, no entanto cada aluno irá apresentar sintomas diferentes, frente às adversidades. O que é preciso se preocupar é quando essa ansiedade toma um nível patológico e começa a prejudicar o aluno no seu dia-a-dia, impedindo-o de executar tarefas que antes conseguia fazer. Então, caso o estudante sinta que esses níveis de sintomas ansiógenos estão interferindo na sua qualidade de vida, e no caso na qualidade de vida alimentar, deve procurar por uma ajuda especializada e evitar buscar amparo em revistas, sites, blogs ou informações generalistas e sem cunho científico. É importante lembrar que cada indivíduo é singular, portanto não existe uma regra geral e mágica para solucionar questões individuais e subjetivas.

 Portanto, é importante que o jovem estudante se dedique também a uma rotina saudável, pois como dizia Platão: “Corpo são, mente sã’’. É fato que se estes dois campos estiver em equilíbrio, o caminho para a conquista de uma vaga na universidade será muito mais eficaz e lembrando: dieta não é simplesmente o que você come, é aquilo que você é.

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