Episódio 5 – Sobrevivente: 45 anos de amor à profissão

Por: Mariana Valverde

“Ser professora ‘naquele tempo’ era motivo de orgulho…”

A ComTempo finaliza a semana dedicada aos professores em uma conversa agradável com a amorosa e respeitada professora Mari Luci Lemos Valverde, de 65 anos. A mãe de quatro filhos e avó de três netos passou 45 anos dentro da sala de aula, sem interrupções, batalhando para dar o melhor de si e criar cidadãos para que buscassem ter um futuro brilhante.

A “Tia Mari” conta que logo no início, quando começou a frequentar a escola no curso primário – como era chamado – já se interessou pela profissão docente. “Depois, esse gosto por ser professora aumentou na medida que o tempo passava, inspirando-me na postura de algumas professoras que tive”. E conta, empolgada, que a reação dos pais foi “das melhores”: “ser professora ‘naquele tempo’ era motivo de orgulho. Meus pais sempre me apoiaram e me incentivaram”, explica.

45 anos de ensinamentos e amor à profissão

Mari Luci lecionou de 1974 a 2019. “Foram 45 anos. Comecei em 1974 como professora substituta e depois de alguns anos, prestei concurso público do estado e continuei lecionando para o ensino fundamental até 2003”, mas a história não acabava aí: “Me aposentei no estado e prestei concurso no município onde trabalhei por mais 16 anos com educação infantil. Então aposentei-me novamente em 2019”, que foi quando finalizou, de fato, a carreira profissional.

Mas afinal, por que voltou para a sala de aula? Mari explica que sentia falta da sua rotina, “de toda aquela movimentação de crianças, amigas, compromissos com a escola e percebi que ainda tinha muita vontade de cumprir um pouco mais na minha jornada”, conta.

1974 x 2019

Inúmeras mudanças ocorreram na nossa sociedade, na educação, no país e no mundo desde 1974. Foi em fevereiro deste ano, inclusive, que o Edifício Joelma pegou fogo, foi nesse ano também que a ponte Rio-Niterói foi inaugurada, em julho Guanabara e Rio de Janeiro se tornaram um só e nesse ano também o piloto Emerson Fittipaldi conquistou o segundo título mundial de Fórmula 1.

Já em 2019 Michel Temer saiu da presidência para Jair Bolsonaro assumir, Brumadinho tornou-se conhecida e chocou Minas Gerais e o Brasil inteiro com o rompimento da barragem. Não tem como esquecer o massacre de Suzano, em São Paulo, e foi também em 2019 que o Superior Tribunal Federal (STF) aprovou a criminalização da homofobia pela Lei de Racismo.

São tantas mudanças, tantas evoluções, tragédias e alegrias. A professora Mari também as sentiu dentro da sala de aula. O salário baixou, a tecnologia chegou e ela teve que aprender a lidar com tudo isso em sua profissão.

“As mudanças foram várias e algumas muito significativas. Quando comecei posso dizer que o salário era excelente. Desde então, ano a ano foi se desfasando e hoje o salário do professor é muito baixo”, conta. Mas também a tecnologia chegou para ajudar quem estava precisando: “para mim, a maior mudança foi a chegada da tecnologia que adentrou as escolas e a vida das pessoas, auxiliando professores e alunos em busca de mais conhecimento e informação”.

A desvalorização X o futuro da profissão

Para a docente, a profissão é muito desvalorizada em todos os sentidos. “Hoje o professor não é mais respeitado. Nem pelos governantes, nem pelos pais de alunos e sociedade em geral e, sem querer generalizar, mas nem pelos próprios alunos. Nesse último caso, podemos ver estes resultados nas estatísticas de professores em sala de aula sendo agredidos”, conta sobre a realidade triste que vemos na televisão, nos jornais.

Sobre o futuro da profissão, Mari acha incerto: “É difícil prever se não houver mudanças, não só na educação, mas também em outras áreas governamentais”, explica.

“Precisamos de um novo rumo. Se não houver comprometimento dos órgãos públicos e da sociedade em geral para pensar que o professor é a base da educação de um país, não sei se muitos jovens que ainda tem objetivos e sonhos de ter uma vida melhor, terão coragem de ser professores”, desabafa.

Mas nada disso tira a esperança da professora que esteve 45 anos dentro de uma sala de aula: “como professora eu quero acreditar que ainda teremos professores com boa formação, valorizados e respeitados para preparar nossas crianças para um futuro promissor. Crianças que estejam comprometidas e conscientes de suas obrigações humanitárias e com o meio ambiente”, diz.

Para os futuros e atuais professoras, ela dá uma dica: “O professor só se realizará como tal, se for realmente sua vocação. Porque além da formação acadêmica, o gosto pela profissão, o amor e o prazer precisam estar presentes”, finaliza.

Agradecemos imensamente a Lucas Dionísio, Luca Cruz, Bruna Cagnin e Mari Valverde pelas palavras incríveis e por ter agregado tanto a essa profissão que é tão desvalorizada no Brasil.

A ComTempo faz também, agradecimento especial a todos os leitores dessa série e dessa revista que sempre que pode, com os recursos que tem, busca oferecer matérias para o alcance de todos, com esclarecimentos, relevância e muita, mas muita informação.

Ser professor não é fácil e fomos apresentados a este fato durante os cinco episódios apresentados nesta série, mas com certeza essa dificuldade ainda é superada por muitos e ainda há quem acredite na profissão, no poder que a educação tem de conscientizar e melhorar a qualidade de vida de cada um que se abre para ela.

Não fechemos às portas para a educação, jamais. Vamos valorizar quem nos forma, quem nos dá o poder de escrever cada palavra, quem nos dá a permissão para seguir em frente. Professor, em nome de toda a equipe da ComTempo, obrigado por resistir e obrigado por oferecer, a cada um desses profissionais que aqui estão, o poder da escrita, do discernimento, da crítica, do pensamento, da liberdade, da leitura, do entendimento e da poesia. Gratidão a todos vocês. Parabéns.

Um comentário sobre “Episódio 5 – Sobrevivente: 45 anos de amor à profissão”

  1. Parabéns a todos os envolvidos nessa série que ficou incrível!!!! Divulguei todos os “episódios”, acho que é uma informação necessária. Obrigado pelo convite para participar, amei!

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