Episódio 4 – Mudança: outros rumos que a vida me deu

Por: Mariana Valverde

Ser professor é um desafio inimaginável para quem nunca entrou em uma sala de aula e se deparou com o desinteresse, a desvalorização e a resistência. É por isso que no quarto episódio dessa série especial sobre os professores, a ComTempo conversou com a professora e jornalista Bruna Cagnin Fernandez, que teve seu início profissional dentro de uma sala de aula.

O amor não era por dar aula, mas sim pela literatura. Foi assim que ela escolheu o seu curso: Letras.

Para Bruna, o amor era pelo objeto de estudo e não para o planejamento do seu futuro. Mas, mal sabia ela que uma sala cheia de alunos e pouco interesse a aguardava. O campo de Letras é restrito a sala, ainda mais se tratando de uma cidade do interior de São Paulo e foi assim que Bruna se rendeu à escola: “Aos poucos, fui me apaixonando por aquela idealização de “mudar o mundo” através da educação”, explica.

Na época, recebeu apoio da sua família inteira e se recorda dos avós: “quando comecei a lecionar em uma escola próxima a casa deles, se sentiram bastante orgulhosos de dizer que tinham uma neta professora”, conta.

“Não sentia que seria uma boa professora”

A insegurança emocional. O apoio frágil de autoridades, pais e alunos. O descaso.

Depois de lecionar por quase três anos veio a desistência. E ela se lembrou dos avós “Cheguei a pensar se eles não ficariam desapontados quando soubessem que desisti”.

Mas foi assim: ela sentiu a desvalorização na própria pele, a cada dia de aula: “não há material, não há apoio psicológico, não há recompensa financeira o suficiente para a doação que os professores se entregam”, conta.

O desafio de ser professora é uma luta diária e Bruna foi sincera com ela mesma. “Não sentia que seria uma boa professora”. Muito além de ser uma boa ou má professora, os desafios foram surgindo e se tornando um bicho de sete cabeças: “Conquistar os alunos é um desafio, resistir às condições precárias que as escolas são impostas acabou me frustrando e desestimulando demais, a ponto de prejudicar ainda mais minha saúde mental”, desabafa. Mas no fundo dessa lembrança ainda estava o lado bom: “é uma entrega muito grande aos alunos, e esse no fim acaba até sendo a parte mais realizadora”.

Mesmo com as vagas boas lembranças, Bruna enfatiza que nas escolas públicas esse terror pode ser ainda maior. “Nas escolas públicas também é uma carência muito grande, que vem da família, da sociedade, do descaso… Eu estava perdendo a linha entre o profissional e o pessoal. Parecia que não era o suficiente e que eu devia demais à escola, por mais que ela já sugasse a maior parte da minha energia”.

A realidade nua e crua

Sobre o futuro dos professores, Bruna é enfática: “Eu gostaria de ser positiva, mas a falta de perspectiva foi justamente um dos fatores que me fez desistir”, e ainda completa: “Infelizmente, não vejo o futuro com grandes mudanças”.

No meio da transição para desistir de dar aulas, Bruna começou o curso de Jornalismo, o que a motivou ainda mais a sair da carreira docente. Hoje, trabalha com textos e é no mundo virtual, das redes sociais, que está o seu futuro próximo. “Pretendo continuar escrevendo, me sinto muito mais confortável neste ambiente e acredito que, se eventualmente não seja algo mais ligado a publicidade, ainda assim será voltado para a comunicação. Afinal eu investi em outra graduação e acredito que me encontrei desta vez”, finaliza ela.

Obrigada, Bruna, por se empenhar e acreditar que a valorização pode mudar o rumo da Educação no nosso país, independente se você está dentro de uma sala de aula, ou não. Afinal, o mundo precisa de pessoas como você, que tentam antes de sair e, mesmo quando sai, continua torcendo mesmo quando o horizonte ainda não é capaz de mostrar uma luz com ares de melhoria.

A ComTempo espera que você seja feliz nessa nova e incrível jornada como jornalista. Inclusive, que continue colaborando com esta revista que ama receber suas histórias, independente da forma como você resolve contá-las. Para quem quiser conhecer mais sobre o texto da Bruna, seguem dois conteúdos preparados por ela para nossa revista.

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De onde vêm as ideias?

Depois da história do Lucas Dionísio que está chegando agora neste universo, do Lucas Cruz que batalha há anos pela educação e da Bruna, que esteve lá, saiu, mas ainda acredita na educação mesmo sem ainda enxergar uma luz no fim do túnel, o último episódio desse especial vai trazer Mari Luci Lemos Valverde, professora aposentada que dedicou 45 anos de sua vida a ensinar e ir atrás de todos os sonhos.

É a visão de quem já passou por todos os estágios dos episódios anteriores que fecha a semana especial da ComTempo. Você vai perder essa? Eu, não!

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