Jornalismo + Educação = Chico Ferreira

Entrevista feita por: Marcos Pitta e Fernanda Mazurek

‘Boa Noite’. É com esta frase que ele invade as casas de quem assiste a RecordTV do interior de São Paulo, na região de Ribeirão Preto. Chico Ferreira é jornalista e escolheu a profissão quando o país passou por uma grande transformação política. Nesta entrevista a ComTempo, ele conta sua trajetória e fala sobre a profissão e o futuro dela.

ComTempo – Quando e onde você nasceu?

Chico Ferreira – Nasci no dia 10 de dezembro de 1964, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

ComTempo – Onde estudou durante a infância?

Chico – Fiz as primeiras séries numa escola de freiras, ‘Nossa Senhora Medianeira’, em Santa Maria. Aos 10 anos, minha família mudou-se para Piracicaba, em São Paulo, e estudei no Colégio Salesiano Dom Bosco. De volta à Santa Maria fiz o segundo grau numa escola estadual.

ComTempo – Como foi este período? Brincava ou dedicava-se mais aos estudos?

Chico – Era um tempo onde os meninos de classe média como eu brincavam nas ruas. Mas lembro que desde cedo, perdia um bom tempo lendo gibis, o que me ajudou a criar interesse por livros, logo na adolescência.

ComTempo – Quando descobriu que queria ser jornalista?

Chico – Quando fazia o segundo grau, no início dos anos 1980, o país passava por uma grande transformação política com o final da ditadura militar. Isto era muito excitante para os adolescentes. Foi neste clima de efervescência política e cultural que me interessei pelo jornalismo.

ComTempo – Onde fez sua graduação?

Chico – Minha cidade, Santa Maria, tem uma Universidade Federal onde meu pai era professor. Então, fiz o curso de jornalismo por lá mesmo, Comunicação Social na UFSM.

ComTempo – Quando entrou no jornalismo televisivo?

Chico – Comecei trabalhando num jornalzinho semanal muito precário, depois fiz um pouco de rádio e aí fiquei sabendo de uma vaga para repórter na RBS TV, afiliada da Rede Globo na minha cidade. Meti as caras e fiz um teste de vídeo. Não sei se por falta de opção, mas acabei aprovado, isto em 1988.

ComTempo – Tem alguns nomes que serviram ou ainda servem de inspiração?

Chico – Na apresentação, gostava muito do Sérgio Chapelin, que há pouco tempo se afastou do Globo Repórter. Na reportagem, tem muita gente boa. Destaco meu conterrâneo e contemporâneo Marcelo Canellas, repórter especial do Fantástico.

ComTempo – Como é ser jornalista hoje? O que um profissional nesta área, atualmente, não pode deixar de ter e/ou fazer?

Chico – Com a possibilidade de qualquer pessoa postar uma informação num aplicativo de mensagens ou numa rede social, o trabalho do jornalista ficou em xeque. Por isso, aumenta nossa responsabilidade em mostrar que só podemos levar ao ar a notícia que é devidamente apurada.

ComTempo – Qual a necessidade do jornalismo atualmente, em meio às fake news?

Chico – A necessidade é justamente mostrar à sociedade a notícia que foi apurada e checada para diferenciar do que corre solto na internet.

ComTempo – Hoje, está decepcionado com a profissão?

Chico – Não estou não. Tenho muita fé que o jornalismo será cada vez mais importante para a manutenção da democracia em todo o planeta. Tão importante quanto a preservação dos nossos recursos naturais.

ComTempo – Qual ou quais notícias mais marcou sua trajetória profissional?

Chico – Gosto de cada dia do meu trabalho. Mas posso destacar o Globo Repórter que fiz em 1996 pela EPTV sobre a história do Caipira Brasileiro e, em 2010, a minha vinda para a Record TV que me possibilitou atuar também como coordenador de jornalismo.

ComTempo – O que acha que mais pode manchar a carreira do profissional desta área?

Chico – O exagero é o pior veneno para o jornalismo. Querer aparecer mais do que a notícia também é uma velha armadilha que pega muito jornalista.

ComTempo – Jornalista consegue deixar a profissão mesmo fora de seu horário de trabalho? Isso o ajudou na vida pessoal, já que é casado com outra jornalista (Flávia Chiarello)?

Chico – Impossível separar o seu dia-a-dia da notícia, porque mesmo longe do ambiente de trabalho, você tem que ser um observador das coisas ao seu redor. Conheci a Flávia na EPTV e acho que nosso relacionamento é tão firme justamente porque dividimos as preocupações, angústias e vitórias da nossa profissão. Não é fácil, mas conseguimos estabelecer limites bem definidos entre a nossa vida profissional e pessoal.

ComTempo – De que maneira acha que as pessoas enxergam os jornalistas atualmente? Por que?

Chico – De uma forma geral, os jornalistas, principalmente quem trabalha em televisão, passaram a ter uma visibilidade bem maior do que a vinte anos. Mas no meu caso, tenho a satisfação de ser reconhecido nas ruas com uma pergunta que é o reconhecimento do meu trabalho. As pessoas dizem: “Você não é o Jornalista? “.

ComTempo – Como é seu trabalho no Escolha a Escola?

Chico – O site Escolha a Escola é um trabalho paralelo que comecei a desenvolver no ano passado usando apenas as mídias digitais, até para não haver um conflito com meu trabalho na TV aberta. Mas, basicamente, é um sonho antigo de discutir a educação com pais, educadores e estudantes. E para isto, as lives das redes sociais são muito eficientes. 

ComTempo – Qual a importância em falar sobre Educação para pais e alunos?

Chico – É um espaço muito grande de discussão. Porque a escolha de uma escola é uma decisão crucial para pais e filhos. E muitas vezes não há espaço nem disposição para este debate em casa. Então, quando você propõe uma discussão, entrevistando fontes qualificadas, é uma forma de ajudar muitas famílias.

ComTempo – Para você, o que é a vida?

Chico – A vida é como uma boa refeição. Tem que ser temperada a gosto. Gostaria de acrescentar algo? Fiquei muito feliz e honrado pelo convite da ComTempo. Jornalismo é um assunto que deve ser cada vez mais discutido. Para a evolução de quem publica as notícias e para o envolvimento de quem as consome. Um abraço a todos.

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