As estações do ano esclarecendo os sentimentos dos jovens

Bruna Corrêa

Pense nas estações do ano. Pense nelas em particular, cada uma com suas características, com seus detalhes e marcas. Veja como são diferentes, como há uma mudança violenta entre o calor intenso do verão e o frio do inverno; entre a paleta de cores, tons e sobtons das flores na primavera e as cores sóbrias e frias no outono. Assim são as emoções do jovem, não organizadas em épocas definidas, com data delimitada em um calendário de início e fim, pois elas acontecem, todas juntas, em um único dia, em alguns casos, em até uma fração de segundos.Tal variação no humor dos jovens é sempre justificada pelo afloramento hormonal, porém, não é este o único fator responsável, segundo o que diz a neuropsicóloga Camila Marchi Assumpção: “Socialmente, espera-se que esses jovens estejam maduros para escolher uma profissão e, por outro lado, não têm independência ou autonomia para fazer outras escolhas. Contraditório, não?”.

A pressão depositada nos adolescentes para que eles sejam o melhor na escola, faculdade ou trabalho é imensa e, em alguns casos, desnecessária, pois exigir que alguém seja bom em Química e fazê-lo acreditar que, se não resolver uma equação em três minutos ele não terá um futuro bem sucedido, o impede de demonstrar seu talento em outras áreas, além de que, tal cobrança agrava um sentimento de incapacidade que, em questão de tempo, pode jogá-lo no abismo das crises de ansiedade.

Em muitos casos, a alternância dos sorrisos em lágrimas súbitas é apenas manifestação de doenças psíquicas como depressão e ansiedade, que por muitos são tidas como “frescura”, principalmente pelos próprios familiares dos adolescentes. 

Assumpção diz que “não se pode evitar que um mal atinja nossos órgãos, então por que seria diferente com a cabeça? O pensamento injetado na sociedade de que estas doenças não passam de uma forma de chamar atenção, faz com que as pessoas que passam por isso se fechem, se aprisionem em seu próprio inverno solitário, onde há uma linha tênue que pode levá-los à perdição, ao total isolamento e, em casos mais graves, ao suicídio, pois “entre a criança que já se foi e o adulto que não chegou, resta apenas o vazio”.

 Assim, a dança das estações no interior do jovem é algo que sempre existiu, uma fase difícil, porém necessária, que precisa ser vivida, fase esta que pode ser percorrida mais sutilmente com ajuda. As tempestades podem se tornar brisa quando: se para e ouve aquilo que estes jovens têm a dizer; quando tempo é dedicado a incentivá-los, ao invés de pressioná-los; quando se dedica em investir na saúde mental destes que se alojam em um mar de caos de sentimentos confusos, transformando cobranças em botes salva vidas.

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