Thanos e o gênero de heróis: de entretenimento barato à blockbusters artísticos

Rodrigo Folter

Tony Stark estala os dedos, as tropas de Thanos começam a desaparecer, e o Titã senta esperando seu destino. Assim terminou uma das principais sagas da história do cinema, com salas lotadas que lembravam estádios de futebol, recordes de bilheteria e muita emoção. 

Até o decorrer dessa cena muitos anos de UCM (Universo Cinematográfico Marvel) existiram e uma das principais críticas sempre foram sobre os vilões. Quem se lembra de Obadiah Stane ou Malekith? Isso não quer dizer que os filmes da Marvel fossem ruins, mas com tantos lançamentos o problema ficou em evidência.

Entra em cena Thanos, talvez o principal pilar do UCM, abrindo portas para um futuro promissor no estilo. O vilão gerou simpatia, seu mantra virou meme com quê de política social e ele foi tema de diversos essays no YouTube. Para explicar o que pode vir a ser do gênero precisamos voltar no tempo.

“Quando se fala em público, existe uma divisão entre os fãs de quadrinhos e os entusiastas que conhecem um personagem dos quadrinhos por intermédio do cinema.” Efrem Pedroza – Crítico de Cinema

Entre 2006 e 2007 foi escrito Guerra Civil, evento que mudou os rumos dos quadrinhos da Marvel. Em uma de suas primeiras páginas morrem centenas de crianças decorrente de uma explosão causada pelo vilão Nitro. Dez anos depois veio a adaptação ao cinema, houve uma explosão, mas não de uma escola. Crianças podem ter morrido, claro, mas o fato não é mostrado diretamente. Não choca tanto. É mais comercial, mais fácil de digerir.

Em 2008 Robert Downey Jr. estrela Homem de Ferro. Duas sequências o seguem, são apresentados Hulk, Capitão América, Thor, os Vingadores se unem pela primeira vez e o universo está com a base feita. A partir daí a Disney/Marvel trouxe à telona personagens menos conhecidos do grande público, arriscando mais. 

Dr. Estranho e Guardiões da Galáxia são visualmente belos e Pantera Negra, que também conta com um ótimo “vilão”, levou a representatividade a um novo nível. Mas ainda faltava um vilão que deixasse o espectador na beirada da poltrona.

“Um bom vilão encanta e potencializa o feito do herói.”

Thanos foi surpreendente. Em vinte minutos de filme os Irmãos Russo levaram a crítica sobre seus vilões a sério e apresentaram o antagonista, que praticamente ocupa a tela toda, derrotando um dos maiores símbolos de força da ficção, o Hulk.

Através de flashbacks interessantes o público pôde ver além da cortina e suas motivações, seguindo a jornada do herói através do vilão. Pode não ter inventado a roda, mas em grandes proporções é inegável o impacto que Thanos causou. 

Entre derrotar o Hulk, ter que sacrificar sua filha para cumprir o autoproclamado destino e o respeito demonstrado aos seus adversários, os Irmãos Russo brincaram de gangorra com os sentimentos do público e, por mais que ele deva ser parado, nos tornamos sensíveis à ele.

É impossível pedir um vilão como Thanos em todos os filmes de heróis, mas o estúdio mostrou que é possível criar uma história cheia de significados, trabalhar muito bem com símbolos e o inconsciente do público em um formato de blockbuster acessível. 

“Com toda certeza veremos mais personagens adaptados ao longo dos anos. E isso se faz necessário por conta da globalização e representatividade presentes hoje em dia.”

Capitã Marvel abriu espaço para discutir sobre o quão fácil taxamos um lado como errado e a heroína carismática e com ego inflado atingiu em cheio o círculo machista que gira em torno do universo geek.

O próximo grande desafio será em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, primeiro filme de terror do universo, mas com o passado recente de produções que desafiam o status quo a Marvel, e o cinema de heróis como um todo, há grandes chances de passarem de blockbusters “vazios” para obras de arte respeitadas. 

(Rodrigo Folter, jornalista do Suco de Mangá)

 

Deixe uma resposta