Episódio 3: um relato pessoal sobre a depressão

ATENÇÃO: O relato abaixo é pessoal e não generalizado. Cada pessoa tem sintomas diferentes. O relato, ainda, pode servir de gatilho, por isso, tome cuidado! Se você sofrer de algum transtorno psicológico, indicamos não fazer a leitura.

A depressão entrou na minha vida de forma silenciosa e tomou conta de tudo. Eu não sei dizer ao certo quanto tempo ela ficou instalada em meu ser, porque quando procurei ajuda, a situação já estava avançada e logo iniciei o “tratamento intensivo”.

A minha procura a um psicólogo foi após uma crise de pânico, em uma situação que não tinha nada para temer. Mas eu temi. Chorei. Tremi. E foi ali que eu percebi: “preciso de ajuda”.

A crise que me solucionou problemas!

A crise de pânico veio em São Paulo, capital.

Eu estava sozinha no cinema e quando a sessão acabou, pedi um Uber. Clássico. Eu já tinha pego Uber várias vezes. Moleza!

No longo caminho até o hotel que havia feito reserva, comecei a sentir umas coisas estranhas. O coração acelerou e eu logo soube que aquilo era uma crise de pânico. Já tinha essas crises há tempos. Mas, desta vez, outras sensações tomaram conta de mim. A pior delas foi o medo. Pelo longo caminho que percorri, podia jurar que o motorista ia me matar. Assim. Do nada. Na minha mente, eu tinha que armar um plano para fugir caso ele iniciasse alguma ação suspeita. No fim do caminho eu já estava quase chorando, mas silenciosa.

O hotel que eu havia reservado era novo para mim. Nunca tinha me hospedado nele. Mas era R$50 a menos que o de costume. (Que besteira! Por 50 reais!) Quando chegamos próximo ao hotel, o motorista virou e me indagou: “É por aqui?”

“Não sei, nunca vim nesse hotel”, respondi. E ele insistiu “Então acho que é por aqui…” fazendo sinal para eu descer do carro. Com todo meu pavor, eu desci.

Me encontrei em frente a Galeria do Rock. Para quem não conhece, o centro de São Paulo é assustador. Tem pessoas perambulando, assaltando, usando drogas e outras coisas… Então, quando me vi ali. O desespero tomou conta de vez.

Mas, respirei fundo. Entrei na primeira loja que vi e perguntei ao segurança onde era o maldito hotel. Ele me indicou o caminho e fui até lá.

O hotel era minúsculo, esquisito, terrível. E quem me conhece sabe que sofro de claustrofobia. Lugares muito pequenos me assustam.

Mas ali era onde o maior terror viria. Subi, sozinha, e ali permaneci entre crises de choros e desespero. A minha cabeça não parava de pensar que eu ia morrer, que alguém ia chegar e me matar. Só conseguia pensar que o meu quarto era o último do corredor. Não tinha para onde correr.

Comecei a vasculhar as janelas e pensar por onde eu pularia caso alguém invadisse meu quarto. Que loucura, né?

Nesse momento, o relógio deveria estar marcando três horas da tarde.

Eu não comi, não dormi e, somente no dia seguinte, tive a companhia de alguém de confiança. Mas, mesmo assim, o terror não passou… fui abordada por assaltantes, outra motorista de Uber me contou histórias terríveis daquele hotel. E então eu decidi: “vou procurar ajuda”.

Foi depois dessa grande crise que frequentei uma terapia e a psicóloga me diagnosticou com depressão. A ansiedade que eu sentia há tempos, o pânico que eu senti aquele dia… foram todas reações de uma depressão que estava instalada ali, pedindo para ser tratada.

Quem diria, não?

Mas ainda não foi tão simples. As coisas não melhoram de uma hora para outra, mas eu persisti, afinal, depressão é morrer estando vivo.

É sentir nada quando você só quer sentir algo.

A tabela de cores da vida se torna preta, branca e cinza.

A visão da felicidade fica turva e o sorriso opaco.

Os dias começam assim…

Muito sono e a cama se torna mais confortável que os outros lugares.

Se afundar em um colchão é alegria, mas não felicidade.

A sensação de não querer conviver com você mesmo é inevitável.

Os meus dias foram assim.

Eu tive longos dias – intermináveis mesmo! – porque geralmente eu estava em algum evento social que eu não queria estar. Podia ser o almoço em família ou ter que ir buscar pão na padaria. Tudo se tornava um martírio.

Estar na minha cama era o mais feliz que eu poderia estar. Mas ainda assim era impossível conviver comigo mesma.

E as pessoas questionam. “Pois sua família é linda”. “Os amigos são ótimos”. “Que falta de gratidão”.

E então entra a culpa.

O depressivo não fica nessa situação por falta de companhia, de fé ou por preguiça.

Mas a culpa sempre bate. As pessoas dizem ‘sai dessa cama’, ‘vai dar uma volta’, ‘falta de trabalho’. Eu sei, eu sei… a gente diz mesmo.

Eu costumo dizer que com o depressivo não existe empatia. Não por maldade. Mas porque as pessoas jamais saberão o que é sentir-se morto, estando vivo.

Você perde o controle da tristeza. E também perde o controle de alguns pensamentos.

Por isso é tão importante falar da prevenção ao suicídio.

É preciso mostrar ao depressivo suicida que há outros caminhos.

Eu, mais do que ninguém, sei que parece que não há.

Mas o caminho está ali.

O caminho está na mão que se estende e na palavra que você não esperava ouvir.

O caminho está onde você menos espera.

Os dias em que resolvi lutar foram dolorosos. Era preciso muito para sair da cama e decidir viver. Mas essa foi a melhor escolha da minha vida.

Afinal, o que é a depressão?

Entre tantas definições para a depressão, a psicóloga Camila Ferrari descreveu com o ponto de vista da psicanálise: “A depressão é um luto mal elaborado ou não iniciado, sendo este último quando o sujeito não foi capaz de reconhecer a sua perda. Quando falamos de luto, não estamos dizendo apenas da morte de alguém, mas da renúncia de um objeto, podendo ser a perda de um emprego, mudar-se de casa, a passagem da vida adolescente para a vida adulta, entre outros”.

Conte comigo, luto com você!

A depressão tem muitas maneiras de chegar, mas também muitas outras de ir embora.

Lute pela sua felicidade. Pela sua vida.

Procure ajuda!

A depressão é um assunto sério que precisa ser tratado e acompanhado por um profissional da área da saúde mental.

Não tratada, pode partir para vertentes ainda mais assustadoras, como o suicídio.

É esse o tema que será tratado no quarto episódio da série especial da ComTempo.

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