Episódio 2: o Folclore vivo nas HQs

Mariana Valverde

Heróis Nacionais

Quando você pensa em histórias em quadrinhos (ou gibis), que heróis vêm à sua cabeça? Provavelmente, aqueles com roupas nas cores da bandeira dos Estados Unidos e que estouram bilheterias ao redor do mundo. Mas, porque não pensar em heróis nacionais, como Curupira ou Caipora?

“O brasileiro está acostumado a importar cultura e não olhar com bom grado ao que é produzido aqui”. Essa frase foi dita por Eberton Ferreira, 41, nascido e criado em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, autodidata nos quadrinhos. Mas, o que este homem tem a ver com o Folclore Brasileiro?

É com esse questionamento e apresentando este protagonista que iniciamos o segundo episódio da série de reportagens sobre o Folclore, da ComTempo. Está preparado? Continue com a gente!

O primeiro contato com a cultura mitológica do Folclore

Ainda criança, Ferreira interessou-se pelas ilustrações de Monteiro Lobato, o responsável pelos livros que deram origem ao Sítio do Pica Pau Amarelo. Foi por meio delas que Eberton decidiu qual profissão iria seguir: ilustrador.

Sobre sua primeira lembrança folclórica, a personagem mais marcante foi a Cuca. “Talvez se ele [Monteiro Lobato] não tivesse obtido êxito na literatura, acredito que a Cuca nem teria sido um folclore conhecido”. Tamanho era o encantamento pela personagem que, já adulto, o ilustrador criou uma história em quadrinhos dedicada à ela.

Por que ela tem essa aparência? Por que ela não gosta de crianças? Como ela se transformou em bruxa? Essas questões são respondidas nesta história. As respostas foram embasadas em pesquisas históricas e mitológicas e foi com essa história exclusiva e nunca contada antes no Brasil que o prêmio da ABRAHQ (Associação Brasileira de História em Quadrinhos) foi dado à HQ “A Bruxa da Floresta”, segunda revista da série Causos, roteirizado e ilustrado por Eberton.

Eberton Ferreira (Foto: Rede Social)
Apaixonado por HQs, Eberton Ferreira faz viver, nas páginas das histórias em quadrinhos, os heróis do Folclore Brasileiro.

Mas afinal, por que o Brasil não preserva?

“O público está acostumado a receber facilmente o que vem de outras culturas. Americana, europeia, japonesa. Isso não é ruim, porque é preciso conhecer, mas também é preciso educar o público para buscar pelo que é produzido aqui no Brasil”.

Segundo o autor, o mercado está em transição. Enquanto livrarias e editoras fecham, a arte independente cresce e, por isso, cada dia mais, novas pessoas conhecem o trabalho que ele faz.

Outro ponto destacado pelo ilustrador é a produção folclórica voltada para crianças, o que dificulta para que as lendas sigam vivas na vida dos jovens após a escola. “A minha série ‘Causos’ se passa na época do Brasil colônia. É um resgate da nossa mitologia para que o público adulto se interesse novamente”. Um desbravador português e um tupiniquim são os protagonistas dessa série. Eles investigam crimes dessa época, e enquanto revelam os mistérios, o público conhece o que teria sido a história real do passado que se transformou na lenda que conhecemos atualmente.

O potencial da mitologia brasileira

Além da série ‘Causos’, o ilustrador tem mais dois projetos envolvendo o folclore.

O Xamã é o protagonista da série de super-heróis. “Dentre os milhares de heróis já conhecidos do público, descobri que não havia nenhum com o poder de se transformar no curupira, lobisomem, boi tatá e outros. Então, criei um herói genuíno e de poder único”, conta, empolgado com o futuro do personagem: “Há um projeto de transformar o Xamã em animação, daqui alguns anos. É um projeto novo, mas acredito que tem tudo para dar certo”.

Para Eberton, toda lenda surgiu com o intuito de passar uma lição: “Não faz coisa errada se não a Cuca vem te pegar”. É desse gancho que surgiu sua ideia de criar HQs de lendas urbanas clássicas que fazem parte do folclore brasileiro. A loira do banheiro, a Kombi branca que pegava crianças, o psicopata ladrão de órgãos, entre outros temas urbanos são tratados nas histórias para maiores de 18 anos, que prometem te aterrorizar.

Atualmente, Eberton Ferreira prepara-se para lançar a próxima HQ da série “Causos”, que falará sobre Boto Rosa.

É com atitudes como as de Eberton, que o Folclore Brasileiro continua vivo na memória dos que estão crescendo nesse mundo tão polarizado e cheio de novidades a cada instante. As HQs são uma forma prática e eficaz de atingir novos leitores, que amanhã serão responsáveis por contar lendas folclóricas às novas gerações. Manter o Folclore vivo é uma luta diária, que começa lá com a ideia da Odila Lange, protagonista do primeiro episódio e que segue caminho nas HQs do Eberton. Mas, essa estrada não tem fim, amanhã, você pega carona no terceiro episódio dessa série e vai conhecer como o Folclore vive nas páginas de um livros e também no fone de ouvido das pessoas em um podcast pra lá de cultural.

Leia o próximo episódio

Escrita por: Mariana Valverde
Acompanhamento: José Piutti
Edição de texto: Marcos Pitta

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2 comentários sobre “Episódio 2: o Folclore vivo nas HQs”

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