Estratégia ou respeito? A verdadeira representatividade Trans na mídia

Leonardo Marques, site Parada Obrigatória

A comunidade LGBTI+ vem se mostrando mais ativa e brigando para conquistar cada vez mais seu espaço dentro da sociedade. Porém, por mais que unidas, cada uma de suas siglas acaba por ter suas próprias lutas diárias. Neste artigo, vamos tratar exclusivamente da figura Transsexual dentro da mídia.

Para começar é importante esclarecermos que a Transexualidade é quando o indivíduo tem sua identidade de gênero diferente da designada em seu nascimento. Segundo dados fornecidos pelo Dr. Drauzio Varella, em 66% dos casos a incongruência se instala já na infância, enquanto nos demais se desenvolve durante a adolescência e na vida adulta.

Forçados muitas vezes a ter a prostituição como única forma de ganhar dinheiro e sobrevivência, essa classe tem ainda maiores dificuldades quando decide seguir o caminho artístico. Ali, acabam por serem maquiadores, cabelereiros ou fazendo shows em casas noturnas. Ainda sim se conquistam o sonho de tornarem-se atores ou atrizes, estão fadados a poucos papeis.

Por anos, transsexuais aparecem na mídia quando é para fazer rir ou representarem uma mulher sensual. Foi assim com Rogéria, famosa por divertir o público como jurada em vários programas de auditório e sempre interpretando papeis em comédias onde, por muitas vezes, a piada final era ela revelar ser homem. E também com Roberta Close, modelo conhecida dos anos 80, quando ganhou destaque por ser considerada como um padrão de beleza a ser seguido.

Em um caso recente, a humorista Nany People foi escalada para um papel na novela ‘O Sétimo Guardião’, no horário nobre da Rede Globo. Em entrevista ao canal ‘Entre-Vistas’, Nany deixa claro que nunca foi fácil: “Não tem nada que esteja acontecendo na minha vida que eu não tenha me projetado pra isso.” Seu papel ali na novela contava também a história de um transsexual.

Ou seja, na maioria das vezes quando escalados ainda colocam sua condição em evidência. Algo que a atriz Maria Clara Spinelli não aceita mais. Premiada por papeis no teatro e famosa por participar de grandes produções na Rede Globo como na novela ‘A Força do Querer’ e na série ‘Supermax’, ambas produções da Rede Globo, Maria Clara desabafa no vídeo ‘A solidão da mulher Transexual Heteossexual’ em seu canal no Youtube que já não aceita apenas interpretar papeis com a condição: “Quando um produtor de elenco me ligava e eu ficava tão feliz, ‘Olha tenho um papel incrível pra você’. Ai chega uma hora que a personagem no roteiro se revela transexual. Ai eu já não quero mais. […] Eu não quero fazer parte de cota. Não porque não acho cota importante”.

Spinelli ainda conclui demostrando o quanto ainda sofre dentro da classe artística e como gostaria de ser vista com outros olhos: “Eu nunca sonhei em ser uma atriz trans. Eu não olho para a Rogéria e vejo uma atriz trans. Mas já entendi que eu preciso explicar o obvio […] Às vezes eu quero só acordar e não ouvir essa palavra: transexual.”

O cenário mundial também vem mudando aos poucos. A série da Netflix, ‘Orange Is The New Black’, conta com a atriz Laverne Cox no elenco. Cox até chegou a ser indicada a Emmy Awards, o Oscar da TV americana, na categoria de Melhor Atriz Convidade em uma série de comédia. Falando em Oscar, em 2018, o longa chileno ‘Uma Mulher Fantástica’ levou o prêmio na categoria melhor filme em língua não inglesa por contar a história de uma trans, com uma atriz transexual interpretando.

Após todos estes dados fica claro que a mídia tem aberto mais suas portas para contar as angústias e sofrimentos que passam os transexuais em suas vidas. Mesmo que por apenas fins comerciais e não porque entendem a importância de retratá-los. Também vemos a preocupação dos meios em escalar atores e atrizes trans para que possam dar vida com ainda mais realismo aos personagens retratados ali.

Porém, isso é apenas uma pequena fresta da porta em que queremos abrir para o futuro em que desejamos. A indústria ainda precisa compreender que estas pessoas vão além do que suas condições e seus rótulos impostos. São atores e atrizes em primeiro lugar e assim como a profissão sempre pede, tem e devem possuir a possibilidade de interpretar os mais diversos e diferentes tipos de papeis.

Um caminho que teremos que trilhar aos poucos, ao mesmo tempo em que caminhamos com a aceitação da sociedade. Nunca se esquecendo que ninguém solta a mão de ninguém.

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