Gira

Kimberly Souza e Rita Bocato

Era noite de terça-feira, véspera de feriado, Dia do Trabalho. Nos aproximamos do portão de grades de uma casinha aparentemente pequena, cuja varanda – embora escura – apresentava três motos estacionadas e diversos objetos pendurados na parede. Duas mulheres entram e pergunto: “O Adolfo está?”.

Ela faz sinal para eu esperar, se curva em direção a uma cadeira, cochicha algo e vira em direção a mim: “Adolfo pai ou filho?”. Digo que é o pai e ela pede para acompanharmos.

Seguimos rumo a um corredor escuro, cheio de plantas. Do meu lado direito, outra varanda e um gato branco cochilando. Do lado esquerdo, em meio a mais plantas, algo que penso ser um altar. À frente, duas casinhas com portas fechadas e grafites desenhados. Mais ao fundo outra varanda, mais ampla e cheia de gente sentada que espera.

Acabávamos de chegar ao Terreiro Ilê Axé de Oxóssi Iemanjá, que acolhe os ritos e praticantes do Candomblé, religião de matriz africana que veio ao Brasil junto aos negros escravizados.

Além da violenta e desumana viagem que os negros sofreram vindo ao Brasil, somado à exploração e a descaracterização de sua cultura, as religiões também foram amplamente afetadas e, até hoje, são alvo de intolerância, racismo e muito preconceito.

Por isso, a Comtempo convida o leitor a conhecer lendo, um dos espaços de resistência e espiritualidade, repleto de rituais e significados que, erroneamente, são relacionados ao mal.

No dia seguinte à nossa visita, o terreiro completou 13 anos de (r) existência. E, naquele dia, era realizada um dos momentos mais simbólicos – e procurados – pelos adeptos das religião. Seria realizada a incorporação – chamada de Gira – de Exu e Pombagira, o primeiro, orixá e a segunda, uma entidade que compõem a religião.

Adolfo Galeone, o babalorixá do terreiro, dá as boas-vindas a mim e a Rita Bocato, historiadora cuja área de estudo é, justamente, as religiões de matriz africana.

O sacerdote nos leva novamente à entrada da casa e, empurrando a cadeira da varanda, revela duas esculturas, a segurança da casa, conforme explica: “O garfo com formas mais retas representa Exu e o de formas mais arredondados – simbolizando o ventre feminino – representa Pombagira. Eles que tomam conta da casa e temos que cumprimentar quando chegamos”.

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