A Dama de Gelo derretida pelo Brexit

Liliam Silva dos Santos

Theresa May é sem dúvidas um dos nomes mais populares nos noticiários europeus e internacionais da atualidade. A primeira-ministra britânica e segunda mulher a assumir esse cargo foi uma das protagonistas de um processo histórico para o Reino Unido e toda a Europa: o Brexit. Mas, além desse fato, quem é Theresa May? E por quê ela tem aparecido tanto nas manchetes sem que o Brexit tenha chegado ao fim?

May veio de uma família classe média baixa de Sussex, estudou em escola pública e se formou em Geografia, pela Universidade de Oxford – a qual só conseguiu ingressar pelo seu bom desempenho nos estudos. Se interessava por política desde a juventude e tinha o desejo de ser a primeira mulher a assumir o cargo de premiê, sonho que não conseguiu realizar graças a Margareth Thatcher. Apesar de não ter esse feito em seu currículo, Theresa May quebrou barreiras ao ser a primeira mulher a assumir a presidência do Partido Conservador, em 2002. Mesmo com algumas visões que a afastam do conservadorismo, recebeu a aprovação de mais de 50% para assumir a liderança do Partido.

Sempre mantendo uma postura fortemente profissional a britânica não chama a atenção da mídia por polêmicas de cunho pessoal. Pelo contrário, ela é conhecida por suas tomadas de decisão e sua postura inflexível, o que resultou no apelido de Dama de Gelo dado à ela por alguns de seus colegas.

Ainda que tenha competência e aparentasse ter respeito no meio político, um grande impasse com o Parlamento britânico ameaçou sua posição de liderança. Theresa May se tornou primeira-ministra aos 59 anos, após a renúncia de David Cameron com o resultado do plebiscito favorável ao Brexit em 2016. Esse seria o maior desafio a ser enfrentado por ela, já que defendia a permanência do Reino Unido na União Europeia. Mas logo ao assumir o poder, May manteve uma postura de “Brexit é Brexit” e não cogitava a possibilidade de um novo referendo. O processo já dura longos três anos e demandou muito

esforço da premiê para conseguir um acordo, já que o Parlamento britânico se mostrava irredutível, rejeitando as tentativas de May para uma saída com acordo e fazendo pressão para que houvesse uma renúncia do cargo. Theresa usou desse artifício como barganha para aprovar seu projeto, mas tanto os membros de seu partido quanto os da oposição, do Partido dos Trabalhadores, continuaram a rejeitar.

Nesses momentos de refutação da Casa dos Comuns em relação a May e nas três tentativas de acordo, a Dama de Gelo fez jus ao apelido. Ela se mostrou sólida em suadecisão de levar o Brexit à diante, independente do preço a ser pago por isso. Mas com os ânimos fervorosos, o cargo de primeira-ministra escorreu pelas mãos. Após forte pressão interna, May renunciou no dia 24 de Maio de 2019 durante um discurso carregado de emoção. Em vídeo publicado em sua conta oficial do Twitter, ela diz que “sempre será um motivo de profundo pesar” não ter sido capaz de finalizar o Brexit, e com a voz embargada

declarou “Sou a segunda primeira ministra mulher, mas certamente não a última. Eu fiz isso sem ser obrigada, mas com uma gratidão enorme e duradoura em ter tido a oportunidade de servir o país que eu amo”.

Alguns analistas afirmam que a partir da renúncia de Theresa May, o novo primeiro-ministro encontrará um desafio maior, com um país dividido entre os que são a favor e contra o Brexit. O favorito para assumir o cargo é o ex-prefeito de Londres, Boris

Johnson, mas que também deixa dúvidas sobre como conduzirá os acordos para o Brexit.

Certamente não será uma tarefa fácil para o sucessor de May resolver o impasse em que vive o Reino Unido hoje, assim como também não foi para ela.

 

 

Colaboração de Lilian Silva dos Santos, estuantes de Relações Internacionais da Universidade de Ribeirão Preto.

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