Jornalismo conveniente

Natália Salvador

É o décimo quinto dia de 2019. Abro o notebook para escrever este artigo e me dou conta de que ainda não liguei minha tevê este ano. Outra constatação é não ter lido uma linha de qualquer de revista ou jornal impresso. Apesar disso, não passei um dia sem acompanhar as notícias do Brasil e do mundo.

São 7h26 da manhã. Checo meu e-mail e a edição do Canal Meio já está em minha caixa de entrada, com o resumo das principais notícias do dia. Enquanto dou uma conferida, meu namorido vem até o escritório me dar bom dia. Ele está com o celular ligado, ouvindo o Café da Manhã, podcast de notícias da Folha de São Paulo.

Essa migração no consumo de informações, de canais tradicionais para novas plataformas, não foi um processo pontual nem intencional.

Em 2015, me apaixonei pela plataforma Medium e lá conheci o projeto Brio, dedicado a publicação de grandes reportagens, algumas delas divididas em capítulos semanais. Na época eu acompanhava as histórias com o apego de quem seguia um seriado.

Em meados de 2018, no ápice da campanha eleitoral e das famigeradas fake news, me tornei assinante do Nexo, jornal digital que eu já acompanhava há alguns anos e que estava fazendo uma cobertura de altíssimo nível.

Outra forma que passei a acompanhar os resumos das notícias é pelo Instagram Stories e IGTV. Gosto da criatividade dos jornais para adaptarem sua linguagem para as mídias sociais e divulgarem seus conteúdos. Vale conferir o perfil da National Geographic Channel com abordagens fascinantes, a edição diária Não Durma Sem Saber, da Folha, e o bem humorado Drops, do Estadão.

Nos últimos meses um novo hábito toma conta dos meus dias: ouvir podcasts. Um amigo me apresentou o semanal Foro de Teresina, da Revista Piauí, que de cara virou favorito. No campo dos noticiários, outros queridinhos são o já citado Café da Manhã, da Folha, e o Durma com Essa, do Nexo, que ouço diariamente pelo Spotify.

O que vejo de mais legal nesse movimento de novas mídias e forma de fazer jornalismo é a liberdade que a internet possibilita de experimentar, sair do óbvio e arriscar novos formatos. Percebo que o jornalismo está cada vez mais conveniente. Ao invés de eu ter que adaptar meus horários para receber as notícias, são as notícias que se adaptam à minha rotina e ao meu estilo de vida. E mais: diferente daquele modelo de jornalismo formal e sisudo, surgem plataformas leves e irreverentes, com nível de qualidade excelente.

Por outro lado, sei também do desafio para os veículos conseguirem retorno financeiro com seus projetos. Infelizmente por essa questão, muitas iniciativas bacanas acabam morrendo. O Brio, por exemplo, teve que adaptar seu formato para poder sobreviver. A mídia em geral atravessa uma crise braba e busca se ajustar a novos tempos de receitas cada vez mais pulverizadas.

Nesse cenário, vejo muitas pessoas lamentando a crise do jornalismo e das empresas jornalísticas. Entretanto, percebo o quanto nós, brasileiros, somos resistentes a pagar para consumir notícia de qualidade, ainda que o custo-benefício seja indiscutível.

São 20h15 da noite. Ligo o notebook para revisar este artigo e abro uma cervejinha para relaxar. Noto que o preço da cerveja equivale a quase um mês de assinatura desses jornais super bacanas que acabei de citar. Em tempo – a cerveja não é daquelas especiais e caras, não. Está aí outra conveniência do novo jornalismo: em geral, custa menos do que pensamos e entrega muito mais qualidade do que estávamos acostumados a receber.

Um comentário sobre “Jornalismo conveniente”

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