70 milhões de jovens querem deixar o Brasil

José Piutti

Accueillant, Adorable, parfait: são as palavras escolhidas pelo intercambista francês, Quentin Lassaussois, estudante de Biotecnologia em Ribeirão Preto, para definir sua nova casa. Porém, para grande porcentagem de jovens brasileiros, o país não agrada e ‘acolhedor, adorável e perfeito’, são termos que não o definem.

É o que aponta pesquisa realizada pelo Datafolha, em julho de 2018. Segundo dados, 62% dos jovens brasileiros, com idade entre 16 e 24 anos, querem deixar o país. É como se, num piscar de olhos, 70 milhões de jovens desaparecessem. O desejo, porém, não se limita  a eles: Entre os que têm de 25 a 34 anos, metade demonstra a mesma tendência, índice que cai à medida em que o entrevistado envelhece, chegando aos 24% entre os de 60 anos ou mais.

O estudante de química Fábio Ribeiro, 22 anos, se enquadra no levantamento. Em seu último semestre na faculdade, já tem em mãos sua passagem para o Canadá. Ele acredita que o país possui melhores oportunidades. “Países de primeiro mundo possuem mais opções para estudo, formação pessoal e profissional. Sempre quis ir para outro país e por isso, busquei fluência em outros idiomas, como o inglês.”

Questionado sobre sua relação com o Brasil, Fábio relata descontamento. “Eu estou descontente com o país porque acredito que as oportunidades em relação a empregos e estudos estão sendo dificultadas. Mesmo que existam opções de financiamento estudantil ou bolsas de estudo, a quantidade segue baixa. Felizmente tenho muitas oportunidades, mas ao olhar pro outro e ver que eles não as tem, é entristecedor.”

Educação é, também, o motivo apontado por Maria Ellis Favareto Lopes, 17 anos, para partir do país. Em seu último ano de ensino médio, a estudante almeja ingressar em uma das  universidades do que chama de ‘santíssima trindade da educação’, Harvard, Princeton e Yale. “Sempre ouvi que as universidades do Brasil são vistas como “inferiores” pelo olhar internacional. A gente confirma essa ideia quando vê a posição das faculdades brasileiras nos rankings mundiais. A minha vontade de deixar o país se baseia em procurar uma formação no ensino superior de significativa qualidade.”

Experiência

Motivada pelo pai a escrever seu futuro em língua inglesa, a estudante de Tradução e Interpretação Adrielly Serra Arena, 19 anos, realizou intercâmbio no Canadá, onde estudou inglês na UMC High School. “Foi uma decisão do meu pai. Ele queria que eu estudasse cinema fora do país ou que decidisse seguir alguma carreira voltada ao inglês.” Seu objeto de estudo foi o maior problema: “Eu fui pra lá sabendo apenas o inglês básico, o que me fez ter dificuldade em me comunicar com as pessoas.

Questionada sobre sua visão do Brasil após o intercâmbio, Adrielly diz ter se sentido menos protegida. “Nunca pensei que iria voltar mais crítica e com mais medo de andar nas ruas, já que no Canadá há mais segurança  e política que zela por todos.” Sensação que a faz querer voltar. “Eu sinto uma vontade enorme de voltar, é minha meta de vida!”

Via de mão dupla

O Brasil retornou a rota de intercambistas de acordo com a Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais. Segundo a associação, cerca de 96  mil estudantes estrangeiros vieram ao país em 2014, no mesmo período em que 230 mil intercambistas brasileiros deixaram o país, segundo Associação do Setor de Empresas de Intercâmbio.

Para ter acesso a matéria completa, acesse a segunda edição da Revista ComTempo.

 

Deixe uma resposta