O compromisso com a luta das mulheres

Arthur Fachini 

O último dia 3 de novembro marcou os 86 anos desde a conquista do voto feminino no Brasil. Conhecido como o Dia da Instituição do Direito de Voto da Mulher, a data é de extrema importância na história do movimento feminista no Brasil. A conquista envolveu um grande trabalho de negociação e luta de sufragistas como Bertha Lutz, que ficou conhecida como a maior líder na luta pelos direitos políticos das mulheres no Brasil (SENADO NOTÍCIAS, 2015). Segundo a socióloga Jacqueline Pitanguy, em artigo publicado no relatório “O Progresso das Mulheres no Brasil 2003-2010”, da Cepia e ONU Mulheres, “o direito ao voto feminino constituiu uma das principais lutas pelos direitos humanos das mulheres nas primeiras décadas do século XX. Esta luta adquiriu contornos diversos nos diferentes contextos em que se desenvolveu”. O tempo passou, direitos e espaços foram conquistados, no entanto, as mulheres ainda enfrentam desigualdades e barreiras sociais.

No Brasil, segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo (2018), as mulheres alcançaram nesta eleição o maior percentual de candidatas eleitas para a Câmara dos Deputados, aumentando de 10% para 15% sua participação – 77 das 513 cadeiras. O aumento é historicamente significativo, no entanto ainda está muito longe da representação real das mulheres em relação ao número populacional e de eleitorado. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (2018), as mulheres representam 52% do eleitorado. Perante o mundo, segundo o ranking do Inter-Parliamentary Union (2018), o Brasil se encontra em 157º lugar em participação feminina no Congresso. A posição deve melhorar um pouco diante do resultado das eleições deste ano. Também é importante destacar que a participação entre as próprias mulheres não é equitativa. Se analisarmos sob a ótica interseccional, levando em conta a pluralidade de identidades e realidades das mulheres, poderemos perceber que as mulheres negras, indígenas, lésbicas, trans, deficientes, dentre outras, estão sub-representadas. Isso afeta diretamente na representatividade das pautas dessas mulheres.

A questão da representação das mulheres é tão importante que esta faz parte de diversos esforços globais promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em setembro de 2015, os 193 Estados-membros da ONU se uniram e firmaram um compromisso global para o futuro. Neste compromisso, a comunidade internacional, incluindo o Brasil, concordou em juntar esforços para cumprir a ambiciosa agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que consiste em 17 objetivos e 169 metas, que devem ser alcançadas por toda a comunidade internacional até 2030. O Objetivo 5 da agenda estabelece que o mundo deve alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Questões como discriminação, violência, casamentos prematuros, mutilações genitais, igualdade salarial, proteção social, liderança, participação política, saúde sexual e direitos reprodutivos, fazem parte das metas acordadas pela comunidade internacional (NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, 2018).

Outra grande iniciativa global para a igualdade é a “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”. A iniciativa foi lançada pela ONU Mulheres em apoio à Agenda 2030, com compromissos concretos assumidos por mais de 90 países. O Brasil foi um dos primeiros a aderir à iniciativa através da sanção da tipificação do crime de feminicídio (ONU MULHERES, 2018). Outro importante movimento para a questão da igualdade de gênero é o movimento global de solidariedade “ElesPorElas – HeForShe” da ONU Mulheres. Lançado em 2014 com poderoso discurso da atriz Emma Watson, um convite formal foi feito a homens e meninos a se juntarem ao movimento, defendo a importância da união para a construção de um mundo igualitário. O HeForShe busca conscientizar sobre os impactos do machismo, da violência e da desigualdade, que impedem que mulheres e homens, meninas e meninos, atinjam o seu pleno potencial (ONU MULHERES, 2014). Diversos eventos, parcerias, esforços e mobilizações surgiram em todo mundo incentivados por estas iniciativas.

Para que seja possível alcançar estes objetivos e metas, e honrar os compromissos internacionais feitos pelo Brasil, é necessário que haja o engajamento de todas e todos, em todas as áreas. É preciso cobrar as lideranças para que cumpram com o seu dever de implementar as políticas necessárias. É preciso nos educar e nos engajar em iniciativas de conscientização, que defendam o respeito, o reconhecimento da pluralidade e a importância da igualdade de direitos e oportunidades. É preciso apoiar as mulheres em suas lutas e pautas. É preciso escutá-las! A acadêmica e professora estadunidense bell hooks (2015) explica que “simplificando, o feminismo é um movimento para acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão”. Este movimento, que defende a igualdade e o fim da opressão, beneficia a todos. Por isso, não é preciso ter medo do feminismo. Precisamos nos solidarizar! Segundo bell hooks, “feminismo é para todo mundo”.

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