ASSÉDIO: Conheça o Malalai, aplicativo que protege as mulheres

José Piutti

Ao acompanhar a HashTag #primeiroassedio – promovida pela ONG Think Olga – e se deparar com diversas histórias de assédio relacionadas à deslocamento, Priscila Gama decidiu agir. Com planos em mãos, levou sua proposta para o Startup Weeknd BH – evento que reúne profissionais e entusiastas para compartilhar ideias e criar startups.

“Desde muita nova – acredite – aos oito, nove anos, ouvia homens dizendo sobre como eu e minha irmã, nos tornaríamos mulheres bonitas e daríamos trabalho. Aos 13, 14, quando andava sozinha na rua, ouvia homens mexendo comigo. Na universidade, UFV (Universidade Federal de Viçosa), havia recomendações gerais para mulheres não irem a regiões afastadas sozinhas”, comenta Priscila, hoje com 34 anos, formada em Arquitetura e Urbanismo.  

Entre os competidores, o projeto de Priscila ficou em segundo lugar, trazendo a vida o Malalai, aplicativo que apresenta pontos positivos e negativos nas rotas das usuárias, proporcionando segurança para que possam percorrer seus trajetos diários.

O aplicativo, disponível tanto para Android como para iOS, funciona da seguinte maneira: Ao disponibilizar a atual localização e adicionar um destino, a usuária recebe possíveis rotas e suas qualificações e pode optar pela mais segura, podendo ainda adicionar contatos de confiança para que mensagens automáticas sejam enviadas em pontos indicados do caminho, proporcionando segurança a usuária e tranquilidade a quem espera. É possível, também, compartilhar toda rota de maneira simultânea, e caso o trajeto demore mais que o tempo previsto, o contato escolhido será avisado. Para situações de urgência, o Malalai possui a função de acionamento simultâneo de três contatos confiáveis através de SMS e de forma gratuita.

18162610133222-t1200x480

Questionada sobre a definição de ‘rota segura’, Priscila explica que foram aplicados conceitos  aprendidos em sua graduação. “No urbanismo existe o conceito de olhos das ruas. Significa que uma região com maior iluminação, movimento, vizinhança, por exemplo, será mais segura que uma região isolada. Os itens escolhidos para mapeamento têm relação direta com isso.”

Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Startups, quatro entre dez empresas inovadoras no país não têm uma mulher sequer trabalhando. Indagada sobre as dificuldades enfrentadas, Priscila afirma ser exceção. “É um sentimento dúbio. Tenho quase certeza que recebi atenção por ser exceção, mulher negra a frente de um projeto de tecnologia falando sobre estupro, e ao mesmo tempo ser quem eu sou constitui uma barreira em alguns casos. Tenho sempre que provar que mereço confiança e atenção fazendo 10 vezes melhor. Digo que há a diferença entre culpa e responsabilidade: culpa de uma sociedade patriarcal, machista e racista, minha responsabilidade de saber que a régua, pra mim, é mais alta”.

Atualmente, o aplicativo conta com 27 mil downloads, com cerca de 10% ativos. Segundo Priscila, são ótimos níveis. Sobre a caminhada do App, demonstra determinação: “Tem caminhado mais lentamente do que gostaríamos, com certeza, já que nossa equipe é formada por três pessoas. Mas não paramos, porque acreditamos no projeto”,  finaliza.

Para ler a matéria sobre assédio na íntegra, acesse a primeira edição da Revista ComTempo.

Deixe uma resposta