Laudelina Ferreira foi inspirada pelo dom

Kimberly Souza

Laudelina Ferreira da Silva, 78, escolheu a poesia cujo trecho foi citado acima, quando a Comtempo a indagou sobre seu escrito mais marcante. A inspiração vem de um episódio de racismo sofrido por uma de suas filhas.  A poesia foi ouvida por cerca de 15 mil pessoas no concurso São Paulo Fala, que deu palco e voz a vítimas de discriminação racial.

“Minha filha candidatou-se em uma padaria que estava contratando. Ela tinha 13 ou 14 anos. Chegando lá, disseram que não precisavam de mais funcionários. Minha vizinha, branca, foi nesta mesma padaria, no mesmo dia, e conseguiu o emprego. Em outra ocasião, uma senhora perguntou à minha filha se ela conhecia alguém que gostaria de trabalhar como babá. No entanto, esta pessoa não poderia ser negra, pois a neta dela tinha medo de negros”.

As palavras soltas, vindas da rotina, dos momentos de dor e desespero, ou as que brotam durante o sono, são anotadas sem pretensão na folha de papel que descansa ao lado de Laudelina, hoje aproveitando o sucesso do lançamento de seu primeiro livro.

Ela escreve desde os 52 anos, quando perdeu o marido e encontrou, nas palavras simples, a forma de extrapolar a dor. Simplicidade, inclusive, é a característica principal de sua vida, refletida em seus escritos e no título de sua primeira obra: Livro de Poesias, composto por 43 inspirações, lançado em setembro de 2017, enquanto Bebedouro sediava os Jogos Regionais dos Idosos (Jori), recebendo atletas de todo o Estado de São Paulo. Laudelina integrava a delegação bebedourense e competiu nas modalidades de vôlei adaptado e coreografia. A noite de autógrafos foi realizada enquanto acontecia um baile para os atletas.

Além de escritora, também produz peças de teatro e toma a frente em causas das quais faz parte: o movimento negro e dos idosos: “Fui diretora de Cultura do clube Alegria de Viver, então, levava os idosos pra bailes fora da cidade e organizava festas temáticas. Nos aniversários de Bebedouro, ensaio coreografias para o Desfile Cívico”.

“A gente supera tudo e segue em frente” diz recuperando o sorriso ao se lembrar das dificuldades que enfrentou, começando na infância. A família é migrante de Minas Gerais, mas Laudelina nasceu em Bebedouro. Morava na Fazenda Santa Alice onde seus pais trabalhavam na colheita de laranja.

Comtempo – Como foi sua infância?

Laudelina – Estudei até o quarto ano. Era difícil porque tínhamos que pegar a estrada de terra para chegar à escola Paraíso Cavalcanti. Quando chovia, a estrada era puro barro e quando o tempo estava seco, levantava muita poeira. Comecei a trabalhar com 13 anos. Naquela época, o pagamento era diferente, só recebíamos em dezembro. Então, comprávamos os mantimentos e guardávamos em um armazém para o ano todo. Quando precisávamos comprar algo que não tinha guardado, minha mãe lavava roupa fora e eu ajudava. Ia longe buscar as trouxas de roupa suja, minha mãe lavava e passava e depois eu voltava entregando. 

Para ler a entrevista completa, acesse a a primeira edição da Revista ComTempo.

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