PESQUISA: Plástico 100% biodegradável está sendo desenvolvido

acúmulo de plastico

Marcos Pitta

2.190.000 dias (500 anos) é a projeção para o plástico comum, produzido com derivado do petróleo (matéria-prima não renovável, cuja composição não é metabolizada por micro-organismos), leva para se decompor na natureza. Isso tem preocupado os ambientalistas e aqueles atentos à saúde do planeta.

120 dias (4 meses), tempo necessário para o plástico biodegradável, produzido pela USP de Ribeirão Preto, com material biológico, leva para desaparecer no meio ambiente. À frente desta pesquisa, a química Bianca Chieregato Maniglia, em entrevista a ComTempo, dá detalhes de seu projeto e conceitua: “Por ser composto de material biológico, é atacado, na natureza, por outros agentes biológicos, como bactérias, fungos e algas. Transformam-se em água, CO2 e matéria orgânica”.

Se aprovado para substituir o plástico comum, o produto desenvolvido pela USP-RP, em números, reduziria em 99,9% o tempo necessário para degradação no meio ambiente. A natureza ganharia 2 milhões de dias a mais para respirar. Fazendo trocadilho com a economia, o superávit seria de 2.189.880 dias a mais para todo o mundo.

O fato dos plásticos biodegradáveis não conseguirem competir com os plásticos comuns por seu alto custo, foi o estopim para Bianca iniciar o projeto, com apoio dos órgãos de fomento como Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), como parte de seu mestrado e doutorado. O projeto contou também com a estrutura do Departamento de Química da USP de Ribeirão Preto.

“Buscamos matéria prima mais barata para tornar este material competitivo. Os resíduos agroindustriais brasileiros ainda são pouco explorados, sendo muitas vezes, descartados na natureza”. A química ressalta que os resíduos podem apresentar grande potencial de aplicação tecnológica: “Foi desta forma, então, que pesquisamos possíveis resíduos, ainda pouco explorados, com polímeros interessantes como amido e proteína para aplicação no setor de materiais”. Bianca revela que o pedido de patente deste plástico será feito ainda em 2018.

Plástico desenvolvido a partir de resíduos agroindustriais.
Plástico desenvolvido a partir de resíduos agroindustriais.

O trabalho de obtenção dos plásticos biodegradáveis envolve, segundo a pesquisadora, grupo de pesquisa com participação de alunos de iniciação científica: “Roberta Lopes de Paula, Larissa Tessaro e Bruno Esposto, e de mestrado, Thamiris Garcia, além da fundamental orientação da Profa. Dra. Delia Rita Tapia Blácido”.

Bianca revela que as propriedades dos plásticos desenvolvidos durante a pesquisa apresentaram resultados satisfatórios em relação aos convencionais, pois possuem boas propriedades mecânicas e funcionais, mas, a alta biodegradabilidade do plástico, “apesar de ser ponto positivo, pode não ser apropriado para produtos que não sejam de rápido consumo”.

Outro fator que faz o plástico desenvolvido pela pesquisadora ainda não ser tão competitivo com o convencional, é a alta capacidade de absorver umidade, criando assim, ambiente favorável para maior proliferação de micro-organismos: “Isso prejudica a conservação dos alimentos, por isso, estamos trabalhando para controlar estas propriedades, tornando-o mais apto para aplicação no mercado”, explica.

Para o produto biodegradável ganhar o mercado rapidamente, a química considera interessante sua aplicação como blendas, ou seja, “na forma de misturas entre polímeros provenientes dos resíduos agroindustriais, com polímeros provenientes do petróleo”. Assim, tem-se o aproveitamento de um resíduo agroindustrial como fonte alternativa renovável para compor embalagens e também reduzir a porcentagem de fontes sintéticas, agregando a biodegradabilidade: “Além de podermos contar com presença das boas propriedades dos plásticos comuns”.

Foi esta a consideração inspiratória para Bianca iniciar o trabalho de pós-doutorado que realiza atualmente, na Escola Politécnica da USP. “Trata-se da produção de plástico, podendo inserir-se mais rápido no mercado, que são as blendas de polímeros de resíduo de babaçu com o polímero polipropileno”, esclarece a pesquisadora.

pesquisadores envolvidos em pesquisa de plastico biodegradável
O grupo de pesquisa conta com participação de alunos de iniciação científica e de mestrado, e orientação de doutores.

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